Quebrei uma invencibilidade que já durava quase dois anos: fui ao McDonalds.
Eu ia muito no Mc, confesso. Eu gosto daquele treco. Mas, depois de ficar tanto tempo numa dieta talibã, acabei me desacostumando, desentoxicando e desencanando do mundo gorduroso de Ronald McDonald.
Meu único fraco em relação a tudo isso eram os brinquedinhos do McLanche Feliz. Pois é, fiquei quase dois anos perdendo todas as promoções. Felizmente, pessoas amadas e profundas conhecedoras de meu lado adorador de bonequinhos e toy arts de todos os tipos, recentemente salvaram minha alma com o Urso do Kung Fu Panda (tks Rô). Tá na minha mesa do trabalho ao lado do robô de lata, do cachorro de íma, do saco de pum e da caneca do Cartoon Network.
Mas, contrariando a tudo e todos (inclusive a mim mesmo) acabei cedendo e indo ao famigerado templo do M amarelo. Trabalhando num belo domingo de sol com minha fiel escudeira Juju, lá fomos os dois nerdzinhos em busca de uma refeição rápida e que não nos deprimisse o suficiente a ponto de não conseguirmos voltar pra agência ou nos fizesse pular de cima da ponte estaiada.
Do lado de fora já vem aquele cheirinho inconfundível e hipnotizador. Entrei e achei tudo muito familiar. O Big Mac tava lá, ainda no número 1. O quarteirão, o chedar... olhei aqueles menus coloridos e pensei comigo mesmo: vou comer essa merda, mas vou ser saudável.
Ao contrário do que se possa imaginar, não demora muito pra escolher seu lanche se você não quiser algo junkie no McDonalds. Tem lá uns 3 sandubas de frango grelhado cumprindo esse papel. Escolhi um desses, pedi uma coca zero e uma saladinha ao invés das batatas.
Eu tava achado tudo isso meio bizarro. Mas acho que todo mundo já teve seu dia de tentar ser saudável no McDonalds.
Sentei na mesinha do lado de fora, cercado de pardais e pombos que esperavam migalhas. Bicho burro, vai morrer de câncer. Ou então teremos pardais de 3 olhos no Itaim daqui uns anos.
Mas enfim chegou a hora de provar meu almoço politicamente correto.
Dei minha primeira mordida no sanduba e nada. Segunda mordida e nada. Terceira, quarta, quinta, sexta abocanhada e absolutamente nada.
Como assim, nada o que? Nada de gosto ué. Pão sem gosto com frango sem gosto (aquilo não é grelhado nem aqui nem na China) e salada sem gosto.
Eu experimentei o nada. Tem noção do quão transcedental é alimentar-se do nada? Tibetanos passam a vida inteira tentando isso e eu consegui no balcão do Mc por 10 reais. Aquele negócio que eu me recuso a chamar de saunduíche pra não ofender a classe, foi a coisa mais insípida que eu já provei na minha vida. Deviam chamar de McVento, McIsopor, McPorra nenhuma...
Ainda se fosse ruim, vá lá. Ruim é melhor do que nada porque, pelo menos, existe algo ali que pode não ser gostado.
Se você um dia entrar no Mc, vai pras cabeças, manda um Big Mac. Se quiser ser saudável, lambe o braço que tem o mesmo gosto daquele sanduba.
Acho que esses lanches servem mesmo pra isso. Pra você tentar manter a forma e desistir.
Da próxima vez vou com tudo.
- Batata extra por mais 50 centavos, senhor?
- Sim.
- O dobro de queijo e triplo de carne senhor?
- Manda.
- Sundae de chocolate com sobremesa?
- Claro.
- Refrigerante de 10 litros, senhor?
- Sim. E do normal.
- O senhor está querendo se matar, senhor?
- Também, quero.
- Obrigada senhor, nunca na história do McDonalds um cliente aceitou tudo o que eu ofereci pra ele aqui no balcão.
- Ótimo.
- Senhor, só mais uma coisinha.
- O que?
- Ajuda as criancinhas com câncer colocando uma moeda para o instituto Ronald Mcdonald?
- Não. Sou junkie mas não sou hipócrita.