segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Segundos.

São tantas as variáveis, que os acontecimentos dessa vida são paradoxalmente reais e improváveis. E tudo isso porque eu dei uma bela e sonora porrada com meu carro hoje. Tá tudo bem, eu tô bem, meu seguro tá super bem (pago). Inevitável sensação de Ctrl + Z.

E nessas horas o fator "se" entra em ação forte como nunca. Fui voltando pra casa com o motor chiando, torcendo pro carro não me deixar na mão, estranhamente calmo e com a cabeça cheia de "se".

Se eu tivesse aprovado meu job sexta, não ficaria até tarde na agência.
Aliás, teria levado a guitarra no porta-malas e pegaria, pelo menos, o fim do ensaio da banda, do outro lado da cidade.
E se eu tivesse saido junto com minha dupla? Ela foi embora, eu podia ter ido também. Isso até me ocorreu.
E se a catraca do prédio tivesse aberto de primeira? Demorou umas três tentativas até ler minha impressão digital.
E se o cara do estacionamento tivesse deixado meu carro no andar de baixo? Demoraria mais uns 5 minutos pra ir embora.
E se eu tivesse ido pela marginal? Pior que isso também me ocorreu.
Se o farol tivesse aberto.
Se o cachorrinho não tentasse atravessar a rua.
Se o chinês não tentasse frear.

Se um mísero ítem desses acima, entre tantos outros de menor relevância no meu trajeto, tivesse ocorrido de forma diferente, cinco, talvez três segundos de diferença transformariam esse acidente em algo inexistente.

Isso sem contar os fatores que levaram todos os outros envolvidos a estarem ali.

Tudo isso pra pensar que o que nos acontece, de bom ou ruim, envolve uma quantidade tão absurda de variáveis, uma matemática de probabilidades tão complexa que tudo se apresenta como milagre.

A vida sempre dá recados. Comigo ela quase grita na cara.

Não, não, acidentes de carro nem sempre querem dizer "dirija com cuidado". Eu sou um motorista muito cuidadoso. Só estava no lugar errado, na hora errada.

Passado o susto e permanecendo a teoria das improbabilidades, me pego pensando nesses encontros fortuitos que a vida arranja sem querer. Achar um velho camarada no meio da rua, encontrar um amor antigo num restaurante, cruzar seu pai no trânsito, conhecer alguém que dali a pouco vai ser seu amigo, sua mulher ou que conhece sua irmã.

Qual a chance?

Encontros numa cidade maluca de 12 milhões de pessoas. De 5 milhões de automóveis. Entre os quais o meu, que bateu.

Trombada de carro com carro a gente manda arrumar, volta da oficina zero-quilômetro.

Mas quando a trombada é de gente com gente, a vida as vezes muda de rumo.

E tem gente que ainda chama isso de acidente.

domingo, fevereiro 24, 2008

Absolutamente sóbrio.

Depois de visitar a residência de muitos amigos meus, uma questão vem me intrigando: porque todo mundo tem uma ou mais garrafas de Vodka Absolut em casa e ninguém abre? Alguém me explica esse fenômeno?

Tudo bem que as pessoas não chegam em casa e dão um tapa no beiço e nem fazem caipirinhas antes de dormir. Ou eu quero crer que elas não fazem isso. Mas, uma vez na vida, será que a gente vai encontrar alguém desapegado o suficiente pra compartilhar com os convivas?

Toda vez que rola algum evento e surge a necessidade de levar Vodka, todo mundo desenterra aquela Smirnoff das profundezas do freezer, aquela esquecida, embaixo de uma crosta de neve eterna. Mas a Absolut que é bom fica lá, guardadinha, intacta, invicta e ilibada. Tá, a diferença de preço entre as duas é de mais ou menos uns 50 paus. Mas um dia alguém tem que beber aquilo. E, de preferência, dividindo com outras pessoas porque, nesse caso, o egoísmo leva ao coma alcoólico.

Aí neguinho fica guardando pra uma ocasião especial. Mas em ocasião especial a gente abre vinho, estoura champagne, bebe cerveja, essas coisas. Vodka não é bebida de comemoração. É bebida de pé na jaca, de caipirinha, de batida, de drink com guarda-chuvinha, etc...

Tenho um casal de amigos que tem simplesmente todos os sabores de Absolut. O último que faltava eu trouxe pra eles do freeshop. Tá lá aquele bando de garrafa, tudo fechada. É um mausoleo de birita. O monumento ao bêbado desconhecido. O túmulo do Mussum: cheio de Absolutis (nossa, essa doeu).

As pessoas tem dó de abrir, já viu isso? Parece minha sobrinha com a caixa de lápis de cor dela.

Já uma outra amiga resolveu o problema com uma espécie de catarse alcoólica. Ela abriu a garrafa e bebeu uns tragos. Mas, pra compensar o sacrilégio, ela tem enfeites, copos, mini-garrafinhas, tudo da Absolut decorando o quarto. Parece os aposentos da Heleninha Roitman. Os pais já estão olhando torto.

E eu?

Bom, eu tenho 4 garrafas no meu bar. Todas de sabores diferentes.

Fechadas, claro. Acha que eu tô aqui convencendo você a me servir das suas porque?

domingo, fevereiro 17, 2008

Sem freio.

Chegou o dia em que o pensamento assumiu total controle sobre a boca. Assim, sem mais nem menos, desapareceu o filtro existente entre esses dois lugares do nosso corpo. Tudo o que vinha a cabeça era dito imediatamente, como um tradutor simultâneo propenso a barbaridades.

Atingiu a todos, de uma só vez. Conforme iam acordando naquele dia fatídico, todos os cidadãos começaram a falar.

- O que? Saco, já seis e meia? Parece que eu acabei de deitar. Nossa, eu não quero trabalhar hoje. Cacete, que preguiça maldita, quantas horas eu ainda poderia dormir? Só mais uns minutinhos. Acho que vou colocar mais 9 minutos. Mas hoje eu tenho que fazer a barba. Acho que vou tomar café de pé na cozinha, aí dá tempo.

Um caos de sinceridade se instalou. Uma verdadeira devastação da privacidade.

O pensamento é traiçoeiro e, justamente por isso, até então ficava escondido dentro da nossa cabeça sem alguém para delatá-lo.

Não pense num abacaxi. Tão certo quanto o fato de que você leu essa frase, é certo também que sua mente ignorou esse pedido e imediatamente desenhou uma fruta na sua cachola. O pensamento é a coisa mais desobediente que existe.

E porque será que essa gente toda pensa baixarias quando quer se livrar de pensamentos? Basta não querer pensar bobagem pra toda sorte de besteiras invadir a mente.


Os casais olhavam um para a cara do outro na cama e imediatamente começavam uma conversa sem pé nem cabeça de revelações, comentários estapafúrdios, palavrões que cresciam exponencialmente até se tornarem verdadeiros arranca rabos sem fim. Claro que as mulheres se aproveitavam melhor da situação para tirar os maridos do silêncio habitual.

As famílias desciam assustadas para o café da manhã e iam enfiando pão e leite pra dentro da goela numa tentativa inútil de deter a fala desenfreada.

Telejornais, programas matutinos de receitas, transmissões de futebol, tudo virou uma grande piada cheia de vexames. Depois de revelações sexuais involuntárias vindas da língua solta de uma dessas apresentadoras loiras de programas infantis, as tevês acharam por bem preservar a integridade de seus profissionais e cancelar suas programações até que a situação voltasse ao normal.

O Presidente da República veio a rede nacional declarar estado de calamidade pública. Antes de se despedir confessou que achava um saco ter que sair de casa fazer pronunciamento e que precisava colocar todo o congresso em quarentena se não ia pipocar escândalo pra todo lado. Acharam por bem nomear um deputado surdo-mudo como Presidente interino. Se o titular já falava sem pensar, imagina agora que falava tudo o que pensa.


Os cientistas, todos igualmente descontrolados, tentando separar as bobagens das teorias sobre o acontecido, passaram horas reunidos afim de descobrir o porque de tal surto e encontrar uma solução rápida para o problema. Tudo estava, claro, em algum lugar da cabeça, nalguma conexão involuntária que havia se estabelecido coletivamente, numa sinapse teimosa.

Alguns aproveitadores quiseram vender pílulas milagrosas nas ruas, garantindo que em poucas horas o problema estaria resolvido. Mas esqueceram de que era inevitável dizerem “trouxa” logo depois de concretizarem qualquer venda.

A tendência foi que todos os cidadãos se isolassem a espera de um tratamento que freasse o falatório. Os mais mente-sujas estavam apavorados. Falar baixinho, colocar esparadrapo, vestir capacete, pensar em frases pré-determinadas incessantemente, tudo valia pra não precisar ser tão honesto ou tão indiscreto caso fosse extremamente necessário algum contato.

Algumas pessoas tiveram idéia de colocar tapa-ouvidos. É, se não era possível parar de falar, se todos fizessem o pacto de não escuta, muitos problemas estariam sanados.

Aos poucos tudo foi ficando deserto nas ruas. A TV votou a transmitir mas sem programas ao vivo. Só filmes, reprises de novela ou coisas do gênero. O Jornal nacional foi uma seqüência de telas com as notícias escritas. O assunto, claro, era um só.

Veio a noite e, com muita dificuldade, todos dormiram. Justamente a hora de colocar a cabeça no travesseiro é que as pessoas mais pensam. E pra dormir faz se necessário um certo silêncio.

No dia seguinte, ao abrir os olhos, pensamentos novamente presos dentro da cabeça. O surto passou. Foram apenas aquelas 24 horas e tudo se foi da mesma maneira inexplicável como surgiu. E inexplicável permaneceu.

Palavra falada não volta mais pra boca. Muitos amores terminaram, outros tantos começaram, muitos foram demitidos, confianças foram quebradas, muitos segredos revelados, alguma vergonha foi sentida.

Desculpas foram ouvidas por toda parte. Uma cumplicidade quase suja que tomou parte de todos que falaram e ouviram bobagens.

Enquanto tudo voltava ao normal, em alguma nuvem acima do firmamento, o chefe entre os chefes andava preocupado, coçando a longa barba branca e arrastando sandálias de um lado pro outro.

- Onde diabos foi parar o programa de instalação que eu usei na Dercy Gonçalves heim? Não é possível que sumiu esse CD...

domingo, fevereiro 10, 2008

Não sabe, chuta.

Eu queria saber quem é que limpa macumba. Já pensou nisso? Há uns 2 quarteirões de casa, vira e mexe tem lá um despacho de esquina. Sei lá quem é o raio do macumbeiro que mora aqui nas redondezas, mas o sujeito tá cheio de serviço ultimamente. Amarração pro amor? Trago seu marido de volta? Mando seu marido que voltou de volta pra onde ele tinha voltado?

Sempre tem lá uma cumbuquinha, as vezes uma pobre galinha preta, umas velas, uma garrafa de cachaça...

Pera aí, galinha, velas e bebida? Já vi isso em algum lugar e não era macumba.... deixa pra lá.

Mas o fato é que depois de uns diazinhos, aquele bololô de coisa acaba sumindo.

E o velho bordão "Chuta que é macumba" só serve mesmo pra mulher feia. Porque chutar uma de verdade garanto que ninguém se atreve. Quem é que tem coragem de botar uma vassoura naquele treco? E a mão então?

Será que são os garis quem varrem?

- Vai lá Tião, sua vez de limpar a farofada toda. Vai você que da última vez o Wladimir ficou duas semanas fumando charuto e girando a cabeça em cima do pescoço.

Varredor de rua já tem que fazer trabalho sujo. No caso, esse é o trabalho sujo do trabalho sujo. Tá mal com o chefe, vai recolher macumba.

Pensando bem, todo mundo tem seus dias de recolher macumba no trabalho.

Mas voltando ao nosso mistério, de repente o próprio cotidiano acaba se encarregando de levar aquele treco agourento embora. Passa lá um bebum e acha um desperdício uma garrafa cheinha de pinga ficar abandonada daquele jeito. Depois vem um vira-lata, come a farofa toda e sai carregando o frango na boca. As velas a chuva carrega. E quando só resta uma gamela de barro vazia e nada mais se parece com o que realmente era, sem problema algum, alguém joga o negócio no lixo.

É uma espécie de ciclo de biodegradação do despacho.

Bom, feita a macumba, desfeito o despacho, azar de quem deu mole e deixou a mulher cortar uma mecha do cabelo pra botar no feitiço.

Tô bem tranqüilo que esse risco eu não corro.

Mas... pera aí... olha só, alguém viu uma cueca branca por aí? Pô, não brinca não, devolve minha cueca. Pera aí, vamos negociar esse lance. Olha, você aproveita as velas que ia dar pro macumbeiro e a gente põe na mesa, rola um jantarzinho, climinha romântico, nada muito do além, mais convencional sabe, é, melhor...

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

A-la-la-ô-de-no-vo

Bom minha gente, como texto novo só depois do carnaval, resolvi deixá-los com a requentada de um post caranavalesco que gosto muito e postei aqui há cerca de um ano.

Aos novos leitores, espero que gostem. Aos que me acompanham desde sempre, um "vale a pena ler de novo".

Bom feriado e inté.


Falta pouco menos de um mês por carnaval. E eu odeio carnaval. Odeio até a página três, afinal de contas é ótimo um feriado com quatro dias e meio pra não fazer nada.

Há alguns anos atrás até fui a um desfile no Anhembi. Achei bem legal. Ver ao vivo, sem a empolgante narração de Cleber Machado e comentários de Leci Brandão é outra coisa.Também tenho vontade de um dia desfilar numa escola aqui de Sampa. Mas não tenho pressa não.

Só que tem uma coisa que me irrita muito mesmo nesse tal de carnaval: o raio do samba enredo.

Não, porque se tem uma coisa fácil de se fazer nesse mundo é música do Arnaldo Antunes e Samba Enredo. É tudo igual. Eu acho de uma cara de pau tremenda. Os nêgo não mudam nem o ritmo, cambada de vagabundo! E tem gente que ainda me compra o CD. Pra quê? Pra ouvir dezesseis músicas iguais?

E tem umas palavras que aparecem em simplesmente todas as letras. Samba enredo sem Amor, Alegria, Fantasia, Cachoeira e qualquer coisa na Sapucaí não é samba enredo.

Me poupe, qualquer um faz um treco desses. É só escolher um tema, juntar meia dúzia das mesmas palavras do ano passado e voi lá.

Tá duvidando? Por isso eu vou fundar aqui a primeira escola de samba de blog do Brasil, a Unidos de Vila Perra. E eu, o carnavalesco e compositor Gastonzinho Trinta (anos), vou provar como qualquer um pode fazer um samba enredo pro carnaval.

Quero ver todo mundo decorando o Samba pra cantar na avenida.

Imagina que tem dois caras de chapéu panamá e bigodinho:

Alôôôôôôôôôôôôôô comunidade do Orkut!

Alôôôôôôôôôôôôôô minha Vila Perra.

Vâmo comentá.

Deixa o samba entrar na avenida.

Choooooooora cavaaaaaaaaaco.

(nessa parte começa a tocar cavaquinho)


Um dia. Aaaaa um dia,
Um dia tão especial
Onde a primavera floresceu, flo-res-ceu
Nesse nosso carnaval.

As fontes
E as belezas naturais.
As minhas aguas cristalinas
De sentimentos ancestrais

Vou vivendo a fantasia
Numa cachoeira de alegria
Desse nosso Carnaval.

Ú-car-na-val

As floooooores
Na minha patria mãe gentil
Um arco-íris dessas cores
Terra formosa ó meu Brasil

Liberdade, ôôôô a liberdade.
Voa nas asas de um Bem-te-vi
Vem trazer felicidade
De vermelho e amarelo na Sapucaí.


(Agora vamo lá, todo mundo no refrão)


Amooooooooor,
Vem viver essa alegria
Vem vestir a fantasia
Desse sonho de criança

Amooooooooor,
Vem curtir o carnaval
A beleza natural
Vai ficar pra sempre na lembrança

Nesse mundo, coisa mais linda eu nunca vi
Vem assistir a Vila Perra
De vermelho e amarelo na Sapucaííííííííoooooôôôô

Nesse mundo, coisa mais bela eu nunca vi
Vem assistir a Vila Perra
De vermelho e amarelo na Sapucaí.


Infelizmente a gente nossa escola foi rebaixada pro grupo de acesso porque o carro que a Jô* tava desfilando quebrou no meio da avenida.

 
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