segunda-feira, abril 23, 2007

Amor Corrupto

Esqueceu a janela do quarto aberta. Saiu de casa distraído, sem perceber que lá fora o dia já começou abafado de mais. Era mesmo um sujeito afobado de mais. Distração por distração aquela era só mais uma das suas. Motivos de discórdia entre Raul e Teresa eram muitos. Mas o de sempre era a desatenção do rapaz.


Coitado do Raul. Coitado mesmo, a Tereza era uma fera. Não sei se foi ficando ou se já era. Toda vez que cometia seus deslizes o homem ficava ainda mais franzino do lado da corpulenta e sinuosa mulher.


- Raul, tu tá achando que eu tenho cara de otária?


Naquele dia foi batata. Raul usou o espelho do elevador do prédio pra ajeitar a gravata. Estava mais atrasado do que o normal, passou o caminho inteiro imaginando o chefe lhe dando uma bela lição de moral.


No escritório era um inferno. A Tereza ligava pra ele o dia inteiro, da primeira sentada na cadeira até a hora de vestir o terno.


- Já cheguei benzinho. Não Tetê, eu tava só pegando um cafezinho. Não esqueci nada dessa vez amoreco. Da próxima vez fico mais aqui na minha mesa pra te atender. E o Raul olhava arrependido pro porta-retratos com a foto do casamento. Um casal desproporcionalmente engraçado na frente do altar.


Ela ficava de marcação em tudo. Fiscalizava cada passo do marido atrás de um mínimo descuido. E o Raul, sempre tolerante que só ele, contava até dez pra suportar as inconveniências da esposa. Fazia de tudo pra aguentar uma vida tão vigiada. Isso até o dia em que chegou no escritório uma nova estagiária.


Ah que maravilha que era a Carolina. Carol como era chamada pela platéia masculina. E o Raul se tornou o sujeito mais invejado de toda a Faria Lima. A mesa da Carol ficava bem na frente da dele, ali ao lado do corredor do xerox. Podia passar o dia todo olhando aquele monumento de mulher indo e voltando com as fotocópias na mão. E era um deleite tanto aquele belo traseiro da ida quanto o ingênuo sorriso da volta. Tinha mesmo um olho clínico para contratar estagiárias esse Dr. João.


A Carol não tinha mais do que vinte e um aninhos. Metade do Raul. Morena de pele, devia tomar sol todo fim semana na piscina pra manter o bronzeado. Cabelos compridos e ondulados, cintura fininha e uma bunda... que bunda era aquela. Os seios que cabem na mão. E não cabem na imaginação do Raul que enlouquecia com perfume almiscarado da ninfeta.

- Oi Tetê. Não. Tô aqui na minha mesa. Eu tava no banheiro querida. Lavei a mão. Já tomei o remédio amorzinho. Sim, lembrei de pagar a conta de luz, meu bem. Aniversário da sua mãe? Mas não é só mês que vem?


E não é que a Carol começou a dar mole pro Raul? É, quem diria heim? Logo pro mais recatado. Logo pro único homem casado.


- Seu Raul, o senhor pode me ajudar com a máquina de xerox? Acho que acabou o papel.

- Seu Raul não Dona Carolina, assim eu me sinto ainda mais velho do seu lado.

- Dona não Seu Raul, quero dizer, Raul. Carol.


É dona sim. É dona de todos os meus devaneios sujos, pensava Raul.


Coitado. Não sabia nem o que fazer. Há mais de quinze anos que deu sua última cantada em alguém. Se derretia todo com o charminho da novata. Hipnotizado por aquele nariz arrebitado carente de cuidado.


O tempo foi passando e as pessoas do escritório começaram a notar o comportamento dócil de Carol na frente do homem.


- Caramba Raul, ela tá dando mole pra você rapá! Tu não vai traçar essa gostosa?

- Mole que nada Evaristo. Eu sento mais perto dela, ela pede ajuda pra mim porque eu tô perto. Só isso.

Só de imaginar se uma história dessas chega no ouvido da Tetê, Raul já começava a tremer.

- Para com isso Evaristo. Tô ficando falado. A Tetê tem ouvido pra todo lado. E se ela escuta esse monte barbaridade? A Carolina é uma menina, tem metade da minha idade.

Medroso que só ele, começou a evitar contato com a garota. Falava que era fiel mas na verdade tinha medo de ser esmurrado pela mulher gorda.

Carol percebendo que o homem andava muito esquisito, mudou de foco e resolveu dar mole pro Evaristo. Dizem que o sujeito, sempre falastrão, na hora H brochou bonito.

E o Raul continua lá, quase empurrado pra fora naquela foto de casamento com sua mulher de proporções monumentais. Aguentando sua dose de broncas matinais.

Não traçou a Dona Carolina. Desistiu de querer.

- Já tô velho pra essas coisas. Sabe como é né, já é difícil dar conta da minha Tetê.

domingo, abril 22, 2007

Dossiê careca

Esse texto é do Croquer. Pra quem é novo por aqui, andei requentando uns textos do meu falecido blog de encarnação francesa. O post a seguir foi editado antes de ser publicado novamente. Atualizei fatos, complementei idéias e mudei o desfecho. Espero que gostem.

Eu sou um careca bem resolvido. Não vou dizer pra você que se amanhã alguém inventasse uma pílula que me faria ter de volta a vasta cabeleira que eu penteava com 18 anos, eu ia dizer:

- Não, valeu, tô bem assim.

Afinal de contas se as coisas do lado de fora da cabeça andam mal, dentro vai tudo muito bem, obrigado.

Você percebe que é um autêntico careca quando ouve das pessoas:

- Eu não te imagino de cabelo.
- Não sei, você deve ficar muito esquisito cabeludo.
- Gasta, seu cabelo tá grande, corta. E faz 5 dias que você raspou a cabeça.

A maioria das pessoas do meu convívio social nunca me viu de franja.

Quando as pessoas vêem fotos minhas com uns 17, 18 anos, perguntam quem é.

O que nos leva a concluir: eu sou mesmo um careca e não poderia ser outra coisa.

O fato é que se você perdeu ou está perdendo cabelo, meu amigo, sua vida daqui por diante tem dois caminhos distintos a serem seguidos:

1. tentar esconder isso de todo mundo a qualquer custo.
2. sou careca mesmo e daí?

Na verdade, no começo todo mundo opta pelo primeiro modo de vida. Mas depois de algum tempo você percebe que a natureza é mais forte. Aí te restam três opções:


1. insistir em ser cabeludo
2. apelar pro ridículo
3. assumir

Bom, eu já tomei o meu rumo.

Mas confesso que sinto uma falta danada de ir ao barbeiro. É que ir ao barbeiro, ao contrário do que as mulheres possam supor, é uma experiência única. Durante anos a fio (perco o leitor mas não perco o trocadalho) eu cortei meu cabelo lá no Bonifácio's.

Lá a gente bate papo, conversa sobre futebol, se atualiza com a última edição da Playboy.

Sim, lá também eu pago meia. E nem precisa mostrar carterinha. Vamos combinar que é o dinheiro mais fácil que um barbeiro pode ganhar.

- Edvaldo, passa máquina 3.
- Edvaldo passa máquina 2.
- Edvaldo, passa maquina 1 e meio dos lados e 2 em cima.
- Edvaldo, passa máquina 1.

E quando eu resolvi passar a zero, o Edvaldo perdeu o cliente. Comprei minha maquininha e passo eu mesmo em frente ao espelho uma vez por semana.

Tudo pra manter a careca sempre bem careca. E pra ficar com cara de mau.

Mas hoje em dia eu vejo cada vez mais homens trocando o barbeiro pelo salão. Não, não acho frescura, acho que quem tem cabelo tem mais é que cuidar. Mas no salão vai ser difícil comentar a saída do Leão do Corinthians ou a tunda que o São Caetano meteu no São Paulo na semi-final do Paulistão.


Bom, mas o papo aqui é pra quem tem falta de cabelo. E eu realmente gosto do meu visual pôcatelha. Talvez graças a alguns personagens que fizeram disso seu charme.
Bruce Willis, Sean Conery, André Agassi, Gastonildo, Michael Stype, Britney Spears (??????)...

Mas tem que criar um estilo. Se não fica com cara de tiozinho. Não precisa tatuar um dragão no alto da cabeça, mas faz o resto trabalhar por você.

E olha, tem mercado pra careca viu? Definitivamente não é dos carecas que elas gostam mais. Tem mulher que acha o fim do mundo (como se a gente tivesse escolha...). Mas digamos que a gente tem o nosso público. E não é pequeno não.


Tá perdendo o telhado? Segura a peruca .

quinta-feira, abril 19, 2007

Sobre encontros.

Há quantos anos não nos víamos? Uns cinco mil?

Um brinde então aos reencontros. Felizes. Fortuitos.

Aos encontros de almas. Gêmeas. Lavadas.

Onde os copos batem pesados nas mesas porque já não são os primeiros.

Onde os passos batem pesados na escada porque já não são mais os mesmos.

As mãos já não medem mais a própria força.

Os pés já não medem mais a própria distância.

Onde as tuas gargalhadas ecoam pelo quarteirão.

Onde se é expulso debaixo de pontapés e piadas.

Como é bom reencontrar.

Abraçar no meio da rua.

Olhar trôpego no relógio.

Com o gosto fugaz daquilo que desmancha.

Com gosto.

A gente se vê.

Baixaria gastronômica.

Fui pro rio com uma missão muito clara e nada leve: comer o tal do bolinho do Bracarense. Braca para os íntimos. Conheço (e agora conheço mesmo) gente que não falava mais comigo se eu voltasse de lá sem ter provado os tais quitutes da baixa gastronomia carioca.

- Gasta, come o bolinho de bacalhau do Bracarense.

- Ok, eu como.

Aceitei já pensando “caraca, bolinho. Não como fritura há mais de 3 meses... vou virar do avesso”.

Mas também né, fazer o que? Acha que ela ia me pedir pra experimentar a Couve de Bruxelas do Bracarense? O Brócolis no vapor? Aipo? Se você for num boteco e pedir acelga eles te enfiam uma coxinha no olho.

Mas desafio é desafio. Bora nesse tal de Braca.

Não parou por aí. Cada carioca que descobria que eu ia pra “terrinha” me recomendava o tal do bolinho.

- Gasta, come o bolinho de camarão com catupiry do Bracarense.

Fodeu. Antes era um e agora são dois bolinhos.

Foi um tanto de gente me dando a mesma recomendação, que o boteco entrou pro roteiro como ponto obrigatório. Mais importante que o Cristo Redentor.

Pois meu tour terminou numa mesinha do Leblon, com uma bandeijinha na minha frente.

Prova do crime:






De volta a São Paulo, sempre que alguém me pergunta como foi a viagem, eu faço questão de comentar orgulhoso:

- Fui no Cristo, no bondinho, na lapa, no maraca.... e COMI O BOLINHO DO BRACARENSE! Falando de boca cheia, quase com sotaque do Méier (não sei se lá o sotaque é diferente mas soa bem, não soa? Tem impacto.)

- Mas só o bolinho? Como assim, você não comeu a empada de carne seca do Bracarense?

Droga.

terça-feira, abril 17, 2007

Serguei, o taxista.

- Vai pra onde doutor?
- Pro aeroporto
- Tá indo passear
- Pois é, vou pro Rio.
- Eu adoro o Rio.
- É, eu tô indo conhecer.
- A última vez que tive lá foi pro show dos Rolling Stones.
- É mesmo?
- É Doutor, eu sou roqueiro.
- Eu também.
- Meu negócio é rock, adoro rock.
- Eu também.
- Gosto de um som mais pesado sabe?
- Sei sim, eu também.
- Posso botar um som aí?
- Põe, claro.
- O filho da minha namorada tem uma banda. O moleque faz um puta som.
- Legal.
- Eu tenho um CD aqui, posso por?
- Põe, claro.

I wanna know, have you ever seen the rain...

- Mas esse aí é o Creedence.
- Opa doutor, não é esse. Deve ser esse aqui ó.

Like a virgin, uooou, touched for the very first time...

- Ih, não é esse não. É esse aqui ó.

It's raining man, aleluia, it's raining man...

- Caramba, também não é esse.

Conga la conga, uuuiii, conga, conga, conga la conga, aauuuu...

- Er, o senhor gosta do Creedence?

segunda-feira, abril 16, 2007

Braços abertos.

Dez horas da noite. Cheguei ao Rio às escuras.

Primeira visita. Fundamental ir pra lá com um grande camarada. Grande cicerone e guia turístico fluminense. Mas o cara é Flamengo. Uma vez e até morrer.

O pai dele, apaixonado e preocupado com a cidade, veio ditando o tom pelo caminho do aeroporto rumo à Barra.

- Tem certos lugares do Rio de Janeiro que a gente tem que evitar durante a noite.

É meu novo amigo, assim é em todo lugar. Aqui onde eu moro isso acontece sempre que uma rua cruza com a outra. Num lugar que, pra espanto de quem é de fora, a gente chama de Farol.

- Mas o Rio de Janeiro é uma cidade linda de mais.

Mal vejo a hora de amanhecer.

Mas antes do dia raiar, ainda tinha coisa pra fazer e Devassa pra beber.

Primeiro contato com os nativos. Dois beijinhos. Concentração, um depois outro. Pra não deixar ninguém no vácuo. Aqui isso soa estranhamente formal.

E foi só abrir boca que...

- Vem cá, você é Paulista?

- Sou Paulistano.

- Meus pêsames.

Quem morreu? O samba? Não somos chegados.

Que abuso. O sol nem levantou. Não se critica um paulistano à noite, sabia? A praia é sua e a noite é minha. Esse foi o acordo na hora de inventar as duas cidades. Mas eu só ia entender o porque da cutucada no dia seguinte. É mágoa. É marra. Porque o breu esconde toda aquela beleza. Por isso o carioca às vezes não se dá bem com a noite. E nem com a gente.

Atravessei a cidade. Barra, Leblon. Durante o caminho, uma informação por segundo. Uma vida inteira contada em linha reta.

Primeira das horas cariocas. Curta. Primeiras impressões.

Muito pouco pra quem está tão curioso.

Amanhã é outro dia.

Pra eles eu sei que vai dar praia.

Eu vou dar o ar da graça.

Vamos ver se o cristo me abraça.

terça-feira, abril 10, 2007

Flaneur II

Ainda sobre observar o cotidiano e as pessoas, lembrei de uma frase que compôs um velho post meu da época de Croque Monsieur. Na sua simplicidade quase pueril, resume um pouco a vida de todos que tem por hábito escrever num blog. A gente realmente muda o olhar.

"O mundo esconde posts. Cabe a gente achar e contar para os outros".

Flaneur I

Adoro observar anonimamente as pessoas. Sentado num restaurante, acompanhado ou não dos amigos, vez ou outra você pode me flagrar caçando situações ao redor. Hoje, por exemplo, passei parte do almoço observando um casal. Não formavam necessariamente um casal de namorados ou coisa do tipo. Ou pelo menos não trocavam gestos de afeto um com o outro. O homem, de cabelos grisalhos, estava de costas para minha visão. A mulher, no entanto, ficava com as expressões à mostra. Aparentava seus trinta e poucos anos. Cabelos lisos e loiros. Olhos claros. Belíssima. Com uma das mãos apoiando o rosto, um leve sorriso no canto da boca e desviando o olhar para baixo de tempos em tempos, transbordava encantamento. Indisfarçável. Longe de mim teorias neurolinguísticas. Sou apenas um flaneur. Olhar treinado. Que se dá o direito de tomar como verdade aquilo que julga ser.

E porque diabos quando estou envolvido em tal situação, ainda que diante de uma bela mulher de cabelos loiros e olhos igualmente claros, não sou capaz de enxergar um palmo diante do próprio nariz? Fico ali tão limitado, provavelmente sendo observado por alguém que pensa baixinho "Deus, ela está completamente entregue".

Basta descobrir se somos todos um bando de cegos. Que deixamos escapar o que nos queima por dentro, enturvando a visão do que está logo ali na frente.

E parece mesmo que estamos prestes a entrar num incêndio. Difícil encontrar o momento certo para dar o primeiro passo.

As vezes ele não vem.

Pois é, há quem diga que a melhor maneira de apagar um incêndio é esperar tudo queimar.

Eu aprendi a brincar com fogo.

segunda-feira, abril 09, 2007

Pra encerrar o assunto.

Curtas pascoalinas.

Dei um ovo de páscoa pra Jô. Lógico que eu dei um quebrado.

Hoje fui no supermercado. Nem vestígio daqueles túneis psicodélicos de Ovos de páscoa. Parece que nem aconteceu. Sou fã desses caras.

Uma amiga me confessou que esse ano não escondeu ovinhos pela casa pro filhinho dela encontrar. Ano passado ela achou ovinhos até Junho.

Uma outra amiga confessou que a filha não gosta de chocolate. Bela, espalha esse negócio que o Fantástico vem atrás de você.

Mais uma amiga confessou que preferiu ganhar botas ao invés de ovos de páscoa. Se eu ganhar botas na páscoa, como as botas.

Enquanto você dormia...

Enquanto você dormia, eu ganhava um presente.

Lá de onde se pode encontrar os textos mais densos e os mais sutis. As referências mais belas e músicas quase perfeitas.

Ela pensa isso tudo enquanto você dorme.

E hoje, assim que eu acordei, encontrei isso.

Meu jeito de dizer obrigado.

domingo, abril 08, 2007

Já vai tarde.

E a páscoa se foi. Sobrevivi com integridade. No final das contas não ganhei ovo dos meus pais. Valeu a ligação no SAC. Minha mãe estava planejando um ataque com aqueles recheados de mousse e sei lá mais o que.


Cara, minha irmã ganhou um de pão de mel. Quase pornográfico. Daqueles que quando você abre e empesteia a casa inteira. Quase me afoguei só de pensar.

Foi difícil sair ileso porque as tentações vieram de todos os lados.

Ganhei um ovo da agência. Caprichadíssimo, crocante e da Amor aos Pedaços. Regime afeta o cérebro mesmo, imagina que eu ia recusar um negócio desses? Segui os conselhos de alguns amigos:

- Gasta, repassa antes que seja tarde.

Dei o ovo pra quem? Heim, heim, heim? Pra digníssima senhora minha mãe (e Gastón vira o jogo de forma espetacular no minuto final). Eliminei os riscos e ainda ganhei lugar no céu. Eu sei, eu sou mesmo um filho maravilhoso. Aprendi essas coisas com meu chefe que sempre que ganha alguma coisa na agência chega em casa fazendo surpresa pra mulher. Época de festival então... a gente recebe flores, champagne, vinho... a moral com a patroa vai lá em cima.

Foco na bacalhoada de Domingo. Minha família é tão religiosa que faz o bacalhau no domingo e não na sexta-feira da paixão. Tive que maneirar. Sem hábitos neandertais de sobrevivência. Tipo, o bacalhau não está em extinção e eu vou poder comer outras vezes.

Meus cunhados já estavam mais preocupados com o meio ambiente. Sabe como é, muitas notícias sobre aquecimento global... uns três pratos tá bom.

- Gasta, pega aquela azeitoninha que caiu ali pra mim? Isso meu querido, valeu.

Nem tudo foi tão salgado nessa páscoa. Afinal de contas eu fui salvo por uma amiga.

- Então Gastonildo, eu sei do seu regime mas, supondo que eu queira te dar um ovo de páscoa...


Implorei encarecidamente que fosse algo entre codorna e galinha. Não, não o bicho, o ovo do bicho.

Eu tenho um certo trauma desse tipo de situação. Tudo culpa de uma ex-namorada que se empolgava nessas datas. Ela vinha rolando o meu ovo de páscoa pela rua. Sabe Indiana Jones? Se tivesse brinquedinho dentro do ovo cabia uma gangorra lá dentro.

Mas minha amiga cumpriu a promessa e me deu um do tamanho galináceo. Roubou um pouco no jogo, claro, mulheres sempre fazem isso. Ela me deu dois ovinhos.

Comi um. Espetacular. O primeiro chocolate em meses. E percebi que realmente esse treco tem uma influência meio nefasta sobre a minha pessoa. Chocolate é a minha Kriptonita. O único elemento capaz de aniquilar uma dieta. É sério isso. Eu não sou chocólatra. Ouvi dizer que é considerado dentro dessa categoria aquele indivíduo que consome em média 250 gramas de chocolate por dia. Isso pra mim não é chocólatra não, é gordo sem vergonha mesmo.

Chocolate é a única coisa capaz de me fazer perder as estribeiras. Preciso ter cuidado.

O outro ovinho que minha amiga me deu eu escondi de mim mesmo. Vou deixar para um momento especial de comemoração. E pra quando eu tiver tempo pra ficar umas 4 horas na academia depois de comer.


Aliás, malhar na páscoa? Vixe, nem o Judas eu malhei.

Mas o fato é que passou.


Olha lá heim, já odeio coisa fofinha, se passar coelhinho na minha frente eu tô chutando.

quarta-feira, abril 04, 2007

Carta aberta

Para fazer alguém rir, primeiro é necessário rir de si mesmo. Agora, se você ri de si mesmo mas percebe que ninguém ri de você então você é bobo. Você riu do final dessa última frase? Putz, então eu sou bobo...

Quando escrevo, eu rio. Me divirto sozinho com a quantidade de baboseira que eu invento. Sei aonde provavelmente você vai rir. Sei porque antes de você ler, eu ri enquanto escrevia. Se eu não me divirto, qual é a graça? Nem todo mundo se diverte com as mesmas coisas. Mas tem certos trechos que são cascas de banana que deixo no caminho pra todo mundo escorregar.

É bom. É muito bom saber que as pessoas se alegram aqui. As vezes mais, as vezes menos. Tem texto que é ruim que dói, tem texto que dói a barriga de tão engraçado. As vezes tem texto que nem é pra rir mesmo. Mas é legal perceber que visitar esse blog muitas vezes é um momento bom no dia de alguém.

Nem todo dia eu posto. Nem todo dia eu consigo escrever. O problema é que eu sou um dos amigos mais disponíveis desse mundo. Ontem, por exemplo, passei o dia inteiro pensando "hoje eu vou malhar, hoje eu vou malhar, hoje eu vou malhar..."

- Gasta, vamos no japa hoje? A Ana vai encontrar a gente lá depois das 8.
- Vâmo.

Assim, sem pestanejar. Facinho, facinho. Sem nem fazer um drama. E lá pelas tantas do jantar eu solto "Acho que não vou postar. Não vou chegar as 23:30 e sentar a bunda pra escrever. Vou dormir que horas, 1 da manhã"? Quase tomei um temaki no olho. Cá estou eu. Não resisti.

Quando tem post, eu acordo pensando que vou abrir meus e-mails e já vou ler dois ou três comentários.

Sei que provavelmente a minha ansiosa amiga MH será a primeira da lista. A Aninha muitas vezes é a segunda. A MC eu aviso por e-mail. A Ana Tejo, quase tenho que montar guarda na mesa dela pra obrigar a comentar.

Tem gente que comenta sempre. Tem gente que vai acumulando, acumulando e comenta dez textos de uma tacada só. Tem quem deixe algo as vezes, quando tá inspirado. Tem quem me lê religiosamente mas nunca abriu a boca.

Claro que isso me estimula a escrever. São diversos os motivos. Algumas pessoas fazem a gente querer escrever porque o comentário delas é o único ponto de contato existente entre nós. Sabe que tenho gostado disso...

Escrever faz parte da minha vida. Vocês também fazem.

terça-feira, abril 03, 2007

SAC

-Alô

- Boa tarde. Bem vindo à central de atendimento do Coelhinho da Páscoa. Para ovos de páscoa, disque 1. Para troca de endereço, disque 2. Para criança malcriada, disque 3, pra falar com uma de nossas atendentes, disque 4 ou 0 a qualquer momento para voltar ao menu principal.

- Saco, até coelho tem telemarketing. "4"

- Sua ligação é muito importante para nós. Não desligue. Todos os nossos atendentes estão ocupados. Por favor, aguarde que em breve atenderemos sua ligação. (música do Kenny G de fundo) A Fábrica do Coelhinho da páscoa tem 236 anos de tradição. Com equipamentos de última geração e chocolates extraídos de cacau selecionado a...

- Fabrica do Coelhinho da Páscoa, Valeria Araújo, boa tarde, em que posso ajudá-lo?

- Oi Valéria, aqui que fala é Gastón. Eu queria cancelar meu ovo de páscoa desse ano.

- Seu CPF senhor.

- Meu CPF?

- É Senhor, pra que eu possa estar verificando a nível de ovo qual é o ovo que o senhor vai estar recebendo.

- 293.XXX.XXX-33

- Senhor Gastón Cortazar?

- Isso mesmo.

- Olha senhor Gastón, infelizmente o senhor não vai poder estar cancelando.

- Ué, mais porque?

- A nível de cancelamento, o senhor poderia estar efetuando apenas até o natal do ano passado.

- Natal? Mas o Natal foi há mais de 3 meses.

- Desculpe senhor, mas aqui está dizendo que o senhor só poderia estar cancelando a nível de natal.

- Mas eu tô de dieta, não quero ovo de páscoa.

- Lamento senhor, mas o senhor vai estar recebendo o seu ovo no domingo de páscoa.

- Isso é um absurdo!

- É que o pedido do senhor foi feito pela sua Mãe, a D. Consuelo Cortazar. Se tivesse sido feito pela sua namorada, aí o cancelamento pode ser feito até 24 horas antes da sexta-feira da paixão por motivo de término de namoro senhor.

- Eu nem tenho namorada...

- Lamento senhor.

- Não é possível, dá uma alternativa pra mim Valesca. Não posso trocar o ovo por um melão?

- Senhor, eu vou estar passando o senhor pro meu supervisor. Um minuto, por favor.

(música do Kenny G de fundo) A Fábrica do Coelhinho da páscoa tem 236 anos de tradição. Com equipamentos de última geração e chocolates extraídos de cacau selecionado a...

- Coelhinho da Páscoa, boa tarde.

(Agora sim, finalmente me passaram pra quem manda.)

-Oi.

- Em que posso ajudá-lo.

- Olha seu Coelhinho, eu não quero ganhar ovo esse ano. Tô de dieta sabe. Aí liguei pra cancelar e me disseram que não dá.

- Olha, não dá mesmo. A não ser que o senhor jogue o seu ovo pro ano que vem.

- Mas ano que vem eu vou estar em manutenção do regime. Vai seu coelhinho, eu deixo uma cenoura aqui pro senhor, desenho umas pegadinhas do chão, coloco um ninho... deixo até uma playboy pro senhor ler. Quebra essa vai. Tô pagando uma bala de nutricionista e melão transgênico todo mês.

- Olha Senhor Gastón, aguarde só um minuto que eu vou passar pra minha supervisora.

(Supervisora? Ué, o coelho não é o dono?)

- Alô.

-Alô.

- Filho?

- Mãe??????

- Oi Filho, tudo bom?

- T... t...tu..tudo. Mãe, o q...que é que a senhora tá fazendo aí? Você é a supervisora do coelhinho da páscoa?

- Ai filho, você não vai cancelar o ovo que eu comprei pra você não.

- Vou mãe, tô de regime.

- Regime que nada. Você é lindo de qualquer jeito. Você tá tãããão magrinho meu filho, precisa perder tanto quilo assim? Cadê seu traseiro menino? Olha essas calça caindo. Olha só, precisa se alimentar direito. O que você anda comendo? Cê tá jantando filho? Tá comendo carne vermelha? Sabe que carne vermelha tem que comer né? Porque não tem nada que substitua. E fruta filho, tá comendo fruta? Melão, mamão, maçã, banana...

segunda-feira, abril 02, 2007

Bom dia, boa tarde, boa sorte.

Eu dou bom dia para as pessoas. Só para as pessoas, claro. Porque tem gente que dá bom dia pro dia. Essas merecem ter insônia eterna.

Em plena segunda-feira sai com mais dificuldade. Mas sai. Ainda mais quando o seu dia começou antes de metade do mundo. Pelo menos era essa a sensação as 5:45 da matina quando o meu despertador tocou. Deus ajuda a quem cedo madruga? Nem ele tava de pé a essa hora.

Dia de rodízio eu costumo chegar depois das 10:00. Mas como tinha coisas pra terminar na agência, cheguei antes da 7:00. Coisas pra terminar antes do resto das coisas começarem, bem entendido.

Essas 3 horas a menos de sono vão ressoar até a hora de voltar pra onde tudo começou: minha cama. Eu conto horas de sono. Se durmo 15 minutos a menos já fico meio doído.

Não acordo de bom humor. Mas não acordo de mal humor. Acordo sem humor algum. Eu tô lesado de mais pra decidir qual o meu humor.

Depois de uma chuveirada boa com muita água na cara amassada a leseira dá uma melhorada.

Mas voltando ao "Bom dia", tem gente que rosna quando escuta. Eu rosno quando ao invés de bom dia eu recebo um "Gasta, sabe aquele job de sexta-feira..."

Caramba, me liberta. Chama a Princesa Isabel. Tô no meu momento diversão antes de começar a pegar no batente, dá licença?

Respondendo e-mail dos amigos, escrevendo pra uma amiga com batedeira (??????), lendo uns posts do fim de semana, procurando o trailler de um filme novo.

Se o seu dia não tá bom, deixa o meu em paz.

Bom dia.

 
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