Flaneur I
Adoro observar anonimamente as pessoas. Sentado num restaurante, acompanhado ou não dos amigos, vez ou outra você pode me flagrar caçando situações ao redor. Hoje, por exemplo, passei parte do almoço observando um casal. Não formavam necessariamente um casal de namorados ou coisa do tipo. Ou pelo menos não trocavam gestos de afeto um com o outro. O homem, de cabelos grisalhos, estava de costas para minha visão. A mulher, no entanto, ficava com as expressões à mostra. Aparentava seus trinta e poucos anos. Cabelos lisos e loiros. Olhos claros. Belíssima. Com uma das mãos apoiando o rosto, um leve sorriso no canto da boca e desviando o olhar para baixo de tempos em tempos, transbordava encantamento. Indisfarçável. Longe de mim teorias neurolinguísticas. Sou apenas um flaneur. Olhar treinado. Que se dá o direito de tomar como verdade aquilo que julga ser.
E porque diabos quando estou envolvido em tal situação, ainda que diante de uma bela mulher de cabelos loiros e olhos igualmente claros, não sou capaz de enxergar um palmo diante do próprio nariz? Fico ali tão limitado, provavelmente sendo observado por alguém que pensa baixinho "Deus, ela está completamente entregue".
Basta descobrir se somos todos um bando de cegos. Que deixamos escapar o que nos queima por dentro, enturvando a visão do que está logo ali na frente.
E parece mesmo que estamos prestes a entrar num incêndio. Difícil encontrar o momento certo para dar o primeiro passo.
As vezes ele não vem.
Pois é, há quem diga que a melhor maneira de apagar um incêndio é esperar tudo queimar.
Eu aprendi a brincar com fogo.
10 Comments:
Adoro observar pessoas. Talvez por isso até curta sair sozinha... ou fazer na companhia de amigos e trocar opiniões...
brincar com fogo é tudo de bom!
11:20 PM
Eu gosto de brincar com fogo..., mas as vezes saio bem queimada.Uh!!
11:40 PM
todo psicólogo é meio voyeur e eu não escapo à regra ...
p.s. te adicionei no flickr!
9:30 AM
Beibe, fica de olho em todo mundo que eu sei :0)
Clau, mas é aí que tá a graça. Com emoção.
Anna, e eu não sei? Coincidentemente, nessa vida eu tenho uma infinidade de amigos e amigas psicólogos. Posso dizer que vivo no meio deles. Todos observadores de profissão.
ps. eu vi teu flickr. não demorei muito pra perceber que era vc. Graças as fotos do Ibira. Tb te adicionei ;)
9:43 AM
Eu também gosto de observar as pessoas e sou bom nisso. Sabe aqueles moleques que fazem leitura labial no Fantástico? São meus estagiários.
9:46 AM
Eu presto total atenção nas outras pessoas. Minha diversão no trânsito é olhar as pessoas nos outros carros... Aeroportos também são ótimos lugares pra se observar pessoas.
Mas na verdade é inerente à minha pessoa, eu to sempre olhando. Então cuidado quando eu tiver no recinto!!!
10:29 AM
Amei o post!
Nem preciso dizer da minha total identificação...
Observar... o tempo todo... em todos os lugares!
Às vezes, mesmo sem ter vontade... já faz parte!
2:25 PM
e fica a pergunta: Por que será que observamos e analisamos tão bem os outros?? Pra "consumo próprio" não sou nem de longe tão eficaz...
2:44 PM
O curioso é que usualmente as pessoas que nos observam sem saber das nossas vidas captam coisas que nem imaginamos sentir, ou que tentamos encobrir.
beijo
10:06 PM
Brinca, Gastón. Brinca que você sabe que, mesmo queimado, quase sempre compensa.
5:24 PM
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