domingo, maio 04, 2008

Anarquistas graças a ele.

Fico vivendo de sopros de memória. Dele, acho que só uma foto em branco e preto, montado reto sobre uma moto. Uma BMW, R61 se não me engano. Ainda me lembro de um jogo de trunfo que tinha quando garoto em que minha avó reconheceu o modelo. Como disse, são sopros de memórias. Na verdade, só me coube juntar pedaços de lembranças de alguém que se desencontrou de mim. Partiu cedo, montado numa nuvem de idéias, deixando nome e anonimato.

Foi de passagem na Pompéia que meu pai ficou saudoso nas lembranças de criança. Na Rua Diana, número 53. A casinha ainda está lá, há poucos metros do Palestra Itália. Lembrou dos tempos da segunda guerra, da fila do pão de mão dada com a minha avó, da briga, da gente mudando de roupa pra tentar passar duas vezes no balcão. Lembrou da D. Ítala dissolvendo macarrão pra fazer um filão.

- Tempo difícil aquele, viu? Hoje é tudo tão mais fácil, imagina só, forno movido a carvão.

Sei que trabalhou consertando vitrolas. Ganhou a vida ouvindo música. Sei que a maioria dos imãos era artista. Artesãos, serralheiros, carpinteiros, músicos. Do meu modo sigo a mesma trilha.

Digo que dele pouca lembrança me foi dada pra montar meu quebra-cabeça de imaginação. Dele eu tenho o Giannetti. Do senhor Gualtiero, filho de Alemano, pai de Renato e Claudio. Dele eu tenho curiosidade, saudade infundada e sangue nas veias. Tenho brios de uma Itália que não era nossa. Tenhos ganas pelo meu Palmeiras que carrega na história a história que é minha e dele. Tenho em São Paulo a terra que compartilho orgulhoso com meus antepassados varões.

Meu outro avô, o de quem tenho lembrança viva, dizia que tua alma voltaria pra cá em mim. Que eu seria você e você seria eu. Mas depois de nascido o rebento, te viu em éter brincando comigo no berço. Quem diria que na pureza de criança eu ainda ganhei do teu carinho.

Vô, eu não conheço o senhor. Hoje o senhor faria 100 anos. E de mais memórias que eu possa viver sobre o sua existência, te dedico minha palavra e a quem quer que leia. Se o teu sangue vive em mim, minha alma te dá vida nesse 4 de maio.

7 Comments:

Blogger Fabi said...

Parabéns careca,poucas pessoas reconhecem o valor de seus antepassados.
Qualquer homenagem seria insuficiente se pensarmos que deles ganhamos a nossa vida, com todos os momentos incríveis e inesquecíveis que experimentamos.

Tô sempre te lendo

beijo

1:41 PM

 
Blogger Cláudia said...

Lindo, sem palavras, fiquei muito emocionada, Gastón.
beijo e parabéns pelo Palmeiras hoje. Belo dia para seu time ser campeão!

6:24 PM

 
Blogger Gastón said...

Fabi, quanto tempo que não vejo vc comentar aqui. Que bom tê-la de novo por essas bandas. Estava devendo essa pro Seu Gualtiero. Espero que ele tenha gostado.

Clau, vitória mais do que perfeita no centenário de quem me tornou Palmeirense, mesmo sem me conhecer. Nem precisa dizer que eu tô que não me aguento de alegria.

6:42 PM

 
Blogger Rodolfo Barreto said...

Alguém sempre vem antes. E quando esse alguém sai deixando bons presentes em forma de história pra gente, isso vale a vida. A dele, a sua e de todos que ainda virão.

Excelente ;)

7:27 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Eu também não conheci o meu avô. Mas tenho uma "memoória rabiscada dele", graças as inúmeras histórias que minha mãe e minhas tias contam dele. Um abraço e boa semana.

http://so-pensando.blogspot.com

10:15 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Eu tive o privilégio que poucas pessoas tem, de ir há um aniversário de 100 anos de um familiar. Se bem que mesmo um aniversário de 100 anos de qualquer pessoa, familiar ou não, é raro. Foi o da minha bisavó. Já perdi dois avós e tenho muitas saudades. Muito bacana a sua homenagem, suas palavras e o mais importante, sua memória e consideração! Abraços Gastón!!!

3:18 PM

 
Anonymous Anônimo said...

*_*


E viva o Verdão!

9:58 AM

 

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