Vida soja.
Eu ando meio cabreiro com esse negócio de soja. Pergunta aí: ô Gastón, não tem nada melhor pra você se preocupar não?
Ter, até tem. Mas uma coisa não exclui a outra.
A soja é mais ou menos o plástico do mundo da comida. Eles pegam a mardita e fazem genéricos.
São milhares de versões sem graça de tudo aquilo que você ama. Existe todo um mundo paralelo feito de soja. A Paula Toler, por exemplo, é uma cantora de soja.
Leite de soja. Soja não dá leite, quem dá leite é vaca. Hello, acorda, vaca, aquele bicho que faz mu, sabe? Pra inventar leite de soja nego achou um jeito de ordenhar grãos. É muita vontade de fazer uma coisa de soja. Outro dia eu inventei de comprar um desses com sabor de fruta. Comprei de abacaxi. Aquilo não era bebida, aquilo era castigo. Você pode extrair confissões com aquilo. Será que a pessoa que inventou nunca bebeu? Alguem vai no supermercado ávido por um daqueles? Alguém acorda de manhã e começa o dia bebendo aquele troço? Não é possível.
Carne de soja. Você pega o marido da vaca acima, corta ele e vai achar picanha, alcatra, cupim, maminha, lagarto, costela, fraldinha, coxão-mole, coxão-duro, filé mignon, patinho... mas soja eu juro que você não vai encontrar lá dentro. Lembro de uma ex-namorada minha que uma vez inventou de comprar um saco de carne de soja e cozinhar aquilo. Nada me tira da cabeça que a gente jantou esponja de banho com molho de tomate.
E hamburguer de soja? Botei no George Foreman e virou uma rodela de feltro. No fim até que teve uma utilidade: colei o hamburguer embaixo dos pés da minha cama pra não riscar o chão. Funciona que é uma beleza.
E o tofu? O japão importa toneladas de Soja do Brasil e devolve tudo em Tofu (gente esperta esses japoneses) que é, nada mais, nada menos do que queijo de soja. Não, você não gosta de tofu. Algo que não tem gosto não pode ser gostado. É semântico. Já disse que quem gosta de tofu na verdade gosta de cebolinha e shoyu.
A última chance que que eu dei pra soja foram umas barrinhas de cereal que eu comprei no mercado. Afinal de contas, se trata de um cereal. Ali ela está adequada ao seu real propósito de existência. Pois nem nisso deu jeito. Barra de cereal já não é assim uma trufa, de soja então...
Pois esse negócio não dá uma dentro. Desistam dela, vamos dar uma chance, por exemplo, ao amendoim. Além do ovinho de amendoim, da farofa de sorvete e do Charlie Brown, não tem mais nada no mundo feito com ele. Porra, larga essa soja, vai cultivar amendoim. Amendoim é bom, milhares de elefantes e bêbados não podem estar errados. Ou então a cevada. Pô, um negócio que faz cerveja só pode ser bom.
- Ô Tião, solta aí um amendoim e um suquinho de cevada.
Bem melhor.