quinta-feira, agosto 30, 2007

Dia desses, noite dessas.

Dia desses encontrei uma mulher que, vira e mexe, cruzo na noite. Não chegamos a ser amigos, temos vários em comum mas raramente nos falamos. Um oi cordial, beijinho com abraço, as vezes um "e aí, tem visto fulana?". Essa última topada não foi tão casual. Era um aniversário para o qual ambos estávamos convidados. Mas muitos dos nossos encontros são fruto do acaso.

É aquela mulher que, quando vejo, penso: essa infeliz não me olha nem a pau. Se belisca, cara. Não, não é pra ver se tá acordado, é pra ver se não virou fantasma mesmo. Ah vai, que inseguro porra nenhuma, todo mundo conhece alguém assim. Ué, também cruzo mulheres para as quais não dispenso sequer um segundo de atenção. É a lei natural dos encontros. Até que interesses se cruzem.

Ontem ela tava com um cara. Um maluco feio que só vendo. Sabe cara seboso? Que pode sair do banho e botar roupa limpa que sempre vai estar com um aspecto meio macilento?

Talvez seja esse um sinal de esperança para os mortais. Mas arranca alguns olhares incrédulos.

Talvez por isso ela desfile com aquele ar tão superior. Se arruma com um sujeito feio pra notarem ainda mais a sua beleza.

Talvez seja só o fato de que a gente é meio perverso mesmo.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Dois pra lá, o resto pra cá.

Eu gosto de dançar. Principalmente a dois. Sou daquelas pessoas que, em festas sociais de grande porte (casamentos, formaturas, etc...) leva um tênis no carro pra conseguir dirigir pra casa de tanto que o pé dói. Festas assim passam pelos mais diversos estilos musicais durante a noite. Confesso que a primeira leva de seleção musical, geralmente enquanto os convidados ainda estão chegando e o coquetel está sendo servido, é a que me agrada mais. É onde rolam os clássicos do Frank Sinatra, Tony Bennet e por aí vai. Fico frustrado se não arrumar um par nessas horas. Não sou lá um grande pé-de-valsa, mas me viro bem quando o assunto é mexer o esqueleto.

Sou a alegria das amigas cujos namorados/maridos ficam sentadões falando do curinthia enquanto a festa tá lá comendo solta. E, por ironia do destino, minhas ex-namoradas eram quase todas sem muito talento pra um belo "cheek to cheek".

Um dia desses até um forró eu encarei. Sim torcida brasileira, Gastonildo, rocker convicto, aterrisou num forrozinho e dançou até a banda arregar. Tive aulas fantásticas com uma amiga que me ensinou a dar voltinha e tudo.

Dançar é democrático. Admiro quem, mesmo sem ter muito jeito pra coisa, se joga na pista ou resolve dar sua rodopiada no salão. Mas, que me desculpem os cintura de mogno, ter um certo molejo é coisa que já vem do berço.

O que mais me diverte é que, em toda boa festa que se preze, sempre tem alguém que, digamos, se mexe mais do que precisa. Geralmente um casal de meia idade que faz uns 5 movimentos enquanto deveria fazer só um.

Sabe aquela coisa meio desengonçada, que a bunda vai pra um lado, bate palma na frente, chacoalha a cabeça e ainda sai trocando de pé? Nesse tipo de situação sempre fico preocupado. Aviso o DJ pra não tocar footloose senão a pessoa corre o risco de separar as pernas do tronco.

E lá vão os dois, felizes que só vendo, se chacoalhando todo no salão. Você não sabe se eles estão brigando, acasalando, dançando ou tentando furar o chão. E pode tocar 50 Cent, Madonna, White Stripes, AC/DC, Village People ou Tiririca. Eles dançam com a mesma intensidade.

Fico imaginando que no dia seguinte nem levantam da cama de tanta dor muscular.

Tem certas ocasiões, principalmente em casamento, que rola até uma rodinha cheia dessa gente assim sem muita noção. Nossa, esse tipo de caso é infinitamente pior porque elas acabam achando que estão certas. Pô, tem mais umas 10 pessoas dançando igual, vamo lá né? Inclusive elas trocam passes. Um começa a chacoalhar os braços pra cima e todo mundo sai imitando, vira coreografia. Saem da festa com a sensação de que aumentaram incrivelmente o repertório de movimentos.

Será que a gente vai virar um bando de velhinho meio exagerado assim?

Bom, sejamos humildes e peçamos pra quem for da família: favor avisar em caso de altos índices de vergonha pela pessoa no salão.

domingo, agosto 26, 2007

O misterioso caso do funeral.

Em meados de 2003, minha então professora de francês fez uma bela viagem pela europa. Entre os destinos, Toledo. Toledo é um cidade medieval, cercada por muralhas, localizada nas chamadas cercanías de Madri. Tomando um trem na estação Atocha, em pouco menos de uma hora se chega à cidadezinha, obrigatória pra quem está de passagem por aquelas bandas. Em Toledo, escondido num salão de igreja, está um dos meus quadros prediletos: O enterro do conde de Orgaz, pintado por El Greco. Essa pintura se tornou uma das minhas prediletas pois foi uma das primeiras que estudei, ainda nos tempos de colégio. Enfim, é emblemática, despertou em mim um interesse que acabou culminando em meus estudos sobre História da Arte.

Mas voltemos à fabulosa viagem da minha professora. De volta ao Brasil, na nossa primeira aula pós-viagem, ganhei um lápis gravado justamente com a figura do quadro. Nem preciso dizer que fiquei muito contente. Não só por ter sido lembrado mas como pela incrível coincidência a respeito do tema, justo a respeito da minha obra de arte predileta.

Fiquei com dó de usar o tal lápis. Acho que isso carregamos todos nós desde a escola. Acabou virando um objeto de apreço. Coloquei-o no meu porta-lápis que, nada mais é do que um belo copo de vidro da Coca-Cola. Ficava lá, entre tantas canetas no meu escritório, no estúdio que tinha junto com um sócio, amigo meu.

Além da pena em gastar, vale a pena dizer que eu não uso lápis pra escrever. Me dá aflição aquela ponta arredondada e aquela letra grossa e rançosa saindo no papel. Só uso lapiseira 0.7 e de grafite mais mole, geralmente 2B. Lápis, pra mim, é um objeto que tem que permanecer intacto (meio doente mental, eu sei).

Um belo dia, chego no estúdio e encontro meu sócio com o meu precioso presente de escrita na boca. Ele estava se deliciando com a borrachinha, mastigando um suculento pedaço dela, já prestes a amassar o alumínio que segura a borracha. Arranquei a tempo dos dentes dele (pena que não levei nenhum junto) e fui avaliar os estragos.

- Porra cara, meu lápis do El Greco? Caralho, como você mastiga um lápis que não é nem seu?

Peguei um estilete. Não, não furei o estômago do meu sócio. Cortei o resto da borrachinha mastigada e deixei rente, como se tivesse sido usada até o fim. Ficou esteticamente recuperada.

O Lápis voltou para o copo de coca-cola. Anos se passaram, a sociedade acabou, fiquei freelando por uns tempos, acabei na agência onde estou até hoje. Agora o El Greco mora aqui na minha casa, em cima da minha mesa do escritório, dentro do mesmo porta-lápis.

Esses dias, ganhei do meu pai um quadro do M. Cavalcante, um artista plástico goiano. Trouxe aqui pra casa pra ver se ficava legal na minha sala. Ficou excelente. Preocupado em fazer os furos no lugar certo, fui atrás de algo para riscar a parede. Enfiei a mão no meu copo porta-lápis e puxei meu querido El Greco.

O lápis está completamente destruído.

Suspeitas?

Vou dar uma dica: começa com "J" e termina com "Ô".

O lápis está sem ponta, meio carcomido no lugar do grafite, com a gravura totalmente esgarçada, rasgada e semi-arrancada.

Agora me diz em nome do falecido Conde de Orgaz: o que diabos essa mulher aprontou com esse lápis?

Eu tô aqui tentando imaginar e, por mais hipóteses que minha mente formule, não encontro uma resposta palpável.

Será que a Jô não gosta de barroco?

Será que ela curte uma arte contemporânea e tentou dar uma modernizada? Romper com o estilo? Estabelecer um diálogo com o dadaísmo?

Será que acabou o macarrão e ela foi procurar a borrachinha pra comer? Aí quando viu que não tinha mais borrachinha ela tentou comer a gravura?

Será que ela tem merda na cabeça?

Bom, não vou jogar o lápis fora sem antes perguntar qual a proeza que ela realizou dessa vez.

Depois eu trato de me livrar dele.

Bom, há quem defenda que eu deveria me livrar dela.

Logo agora que ia bater o recorde de 8 meses sem espatifar nada...

Pois é, vou providenciar o enterro do enterro do conde de orgaz.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Princesa Isabel II: o retorno

Como vocês devem ter notado, não ando lá muito assíduo nas postagens. Não por falta de inspiração, mas por semanas abarrotadas de trabalho. Sabe aqueles malabaristas que ficam girando uns pratos em cima de varetinhas?

Vou tentar deixar algo mais do que desculpas nessa semana. Mas já vou avisando que a coisa tá feia.

Em dias que "ter paciência" é minha palavra de ordem, divido a tarefa com vocês.

Beijo pra quem é de beijo, abraço pra quem é de abraço,

Gasta

terça-feira, agosto 14, 2007

14 homens e um segredo

Aqui onde eu trabalho estamos passando por um probleminha: superlotação.

Ok, temos cadeira para todos, mesa para todos, computador para todos e assim por diante. O que não temos, digamos, pra dar e vender é privada. É, a empresa mais que dobrou seu quadro de funcionários e o pobre troninho continua sendo um só. Pobre troninho mesmo, não tem sossego o coitado. Temos a bagatela de 14 marmanjos dividindo a mesma sofrida porcelana. E eu achando que a minha vida é que era difícil.

Imagina só: se em média a gente trabalha umas 10 horas por dia e cada um vai ao banheiro umas 4 vezes (contando três paradinhas para fazer número 1 e uma paradona pra fazer número 2), o reservado recebe 56 visitas diárias. O que dá aproximadamente 5,6 por hora ou um visitante a cada 10 minutos. Pois é, tá pior que rodoviária isso aqui.

Se bem que nesses últimos dias eu ando desfalcando os números. A chibata tá tão violenta que não tomo nem água que é pra não precisar fazer xixi depois.

A convivência nem sempre é fácil. Dividir um mísero toillete entre tanta gente é, no mínimo, um jogo de paciência. Mas, como se trata de um banheiro masculino, a gente aproveita pra levar os problemas com um certo bom humor. Tem o sujeito que bota o jornal de baixo do braço e sai anunciando que se não voltar em 40 minutos pode chamar os bombeiros. Tem outro que sai recomendando a utilização do recinto somente após meia hora, até que o alerta laranja seja reduzido para o amarelo e então para o verde. Tem quem fique na porta, do lado de fora falando bobagem pra desconcentrar quem tá lá dentro.

No nosso banheiro tem uma coleção (pra lá de desatualizada) de revistas masculinas. Pois é, no começo alguém jogou uma Carta Capital no armarinho. Todo mundo ficou expert em finanças de tanto ler e reler as reportagens da revista. Até que um dia alguma boa alma se revoltou e doou secretamente uma pilha de Playboys e Vips pra deleite da nação. Que gesto mais nobre.

Como todo bom reservado de "firma", nesse nosso universo hidráulico-corporativo residem alguns mistérios.

Um desses 14 cavalheiros quando entra no banheiro, entra em contato com terríveis substâncias químicas de produtos de limpeza, sofre seríssimas mutações genéticas e se transforma em... Miiiiisteeeeeeer Flood!

Mr. Flood é um sujeito que vai ao toalete e não sabe usar a pia. Quase que diariamente, entro no banheiro e me deparo com uma poça d'água gigantesca no chão. Chão esse que não tem mais do que 3 metros quadrados. Ele ensopa o granito todo e o piso logo abaixo dele. Não sei como consegue. Por mais que eu tente molhar a pia daquele jeito acho que isso aconteceria apenas se eu resolvesse entrar dentro dela e tomar um banho Tcheco. Fico imaginando se esse pulha faz isso na casa dele.

Estamos investigando para descobrir quem é o fanfarrão. Se alguém souber do paradeiro de Mr. Flood, por favor ligue para o Linha Direta.

Num caso tão grave como esse não se deve lavar as mãos.


p.s: numa sincronicidade quase escatológica, o também escreveu sobre o tema hoje. Vale dar uma conferida nos devaneios banheirísticos (e engraçadíssimos) do nosso amigo.

Todo mundo falando de banheiro. Isso ainda vai dar m...

terça-feira, agosto 07, 2007

Gente fina.

Não adianta vir com esse papo de que é sofrido, que é difícil, que é horrível. Quem não engorda tem que levantar as mãos pro céu.

Aquele que é magro de ruim, sabe? Todo mundo conhece um. Ou dois. Ou vários. Durante a adolescência isso era mais comum. Sempre tinha um varapau no meio da turma que comia igual a um desgraçado. Neguinho toma banho de braço aberto pra não cair no ralo mas chega no meio da tarde e bate uma caixinha básica de leite. O famoso bezerrão. Pra acompanhar as 5 torradas com manteiga e banana que sobrou na fruteira.

Tenho dó do pai de um ser humano desses, tem que trabalhar em dois turnos.

Mas isso não é exclusividade de homem não. Conheci (e ainda conheço) umas mulheres que são dignas do título de Magali. Só comem tranqueira, beliscam o dia inteiro, se entopem de porcaria. Não engordam um grama.

Há quem diga que uma hora chega o fatídico dia em que seu metabolismo muda. Do jeito como falam parece que tem data e hora marcada. Agora seu metabolismo é bom, a partir de amanhã ele é uma droga e você vai virar uma poita. Que nem validade de yogurte. Sabe quando na validade está marcando 08/08/2007 14:37? Os caras dão até os minutos da validade. Quer dizer que as 14:38 meu yogurte estraga?

Bom, mas eu tenho uma teoria de que gente que não engorda tem a perna oca. Pois é, tudo o que come vai lá pra perna. Enquanto não passar do joelho a pessoa tá se empanturrando ainda.

Fala sério, já imaginou ir numa bela lanchonete, pedir um milkshake de Nutella (com chorinho), um cheese-salada, uma porção de fritas e sair de lá intacto? Só de pensar nisso eu já ganho uns 2 quilos. Fora a culpa. Porque culpa pesa que é uma desgraça. Pois é, o perna oca encheu até o tornozelo só.

E eu que estou de dieta há nada mais, nada menos do que sete meses? Encontrei uma amiga do mercado que soube disso e falou "maldita força de vontade masculina".

O mais perto que eu cheguei de uma nutella foi na gôndola do supermercado.

Hamburguer, só de peru, da Sadia. E sem ser no pão.

Batata frita? Sai daqui coisa do capeta.

Vale a pena? Ô se vale. Afinal de contas, os números mudaram bastante de lá pra cá.

Mas eu queria ter esse metabolismo fantástico que faz a comida passar quase despercebida pelo organismo.
Queria que a minha nutricionista me obrigasse a comer uma pratada de macarrão.

- Olha Gasta, você tá muito magrelo. Vamos colocar uma bela sobremesa aqui depois desse seu almoço. Eu quero que você coma um petit gateau todo dia. Entendeu bem? Eu disse todo dia. E antes de dormir, uma barra de Toblerone.

O negócio é ir se cuidando. E se cuidar, mesmo abrindo mão de certos prazeres gastronômicos, faz muito bem.

Porque magro eu tô. Mas juro que não é de ruindade.

domingo, agosto 05, 2007

Mi casa, su casa.

Esse fim de semana, passado praticamente todo ele solitário, teve poucos momentos de "nariz pra fora de casa" como gosta de dizer minha mãe. Entre escapadas matinais para ir à academia e uma visita rápida aos meus pais, resolvi tirar o corpo da forma do sofá pra um programa tipicamente paulistano: ir à Etna.

Etna, pra quem nunca ouviu falar, é uma mega loja de decoração. Pra quem conhece a Tok Stok ou a gringa Ikea, vai quase na mesma linha (com a licença poética da Ikea que é mil vezes melhor e mais barata).

Pois é, tava precisando de umas coisas aqui pra casa. Nada especial, só uma vasilha para por minhas frutas e um daqueles trecos que a gente pendura no box pra colocar shampoo e sabonete. Sim, já que eu uso shampoo, vamos pendurá-lo em algum lugar de fácil acesso, não?

A Etna é um lugar perigoso para meus instintos consumistas. Aliás, existem alguns lugares que, se a grana do banco não tá lá essas coisas, é melhor nem passar perto. Etna, lojas de tênis me geral, Livraria Cultura... Mas fui focado. Sem gastos extras Senhor Gastón. Sem gastos extras.

Na verdade acabei dando uma vaciladinha e levando também um amolador de facas. Faz tempo que eu tô precisando, as minhas já estão esborrachando tomate de tão ceguetas.

Meu apartamento é arrumadinho. Nada de mais. Porém, costuma arrancar elogios dos visitantes. Bom gosto? Sim, isso eu tenho. Pra arrumar casa, escolher mulher, comprar roupa e, como não poderia deixar de ser, fazer meu trabalho. Sim, o feio depõe até contra minha profissão.

Ap pequeno e gosto "clean". Combinação certa. Assim não corro o risco de trazer tranqueiras. Cada elemento que entra tem que ser muito bem pensado. Aonde vai ficar, aonde vai guardar, se é realmente indispensável. Mantém os impulsos no lugar.

Sinto que, decorar a casa é mania antiga entre os paulistanos. Ontem tinha fila de carros na Berrini (avenida onde fica a loja). Eu sei que fila nessa cidade é lugar comum. Mas nunca vi a Etna tão entupida de gente.

E, pra quem tem seu canto ou está pensando em ter, é mesmo uma delícia andar por lá. A gente vê aquele bando de gente sonhando. A maioria só sonhando mesmo. Imaginando uma casa melhor, maior, mais bonita. Pensando que bom seria mudar tudo. Comprar algo pra casa é dar um presente pro seu dia a dia.

Eu gosto. Por mais que nesse apartamento, por hora, as coisas estejam bem arrumadas. De volta à ativa só quando tiver grana e coragem pra montar o escritório.

Pois é. Cuidar da casa é programa de Paulistano.

Quem não tem praia, caça com sofá e TV de plasma.

 
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