domingo, agosto 26, 2007

O misterioso caso do funeral.

Em meados de 2003, minha então professora de francês fez uma bela viagem pela europa. Entre os destinos, Toledo. Toledo é um cidade medieval, cercada por muralhas, localizada nas chamadas cercanías de Madri. Tomando um trem na estação Atocha, em pouco menos de uma hora se chega à cidadezinha, obrigatória pra quem está de passagem por aquelas bandas. Em Toledo, escondido num salão de igreja, está um dos meus quadros prediletos: O enterro do conde de Orgaz, pintado por El Greco. Essa pintura se tornou uma das minhas prediletas pois foi uma das primeiras que estudei, ainda nos tempos de colégio. Enfim, é emblemática, despertou em mim um interesse que acabou culminando em meus estudos sobre História da Arte.

Mas voltemos à fabulosa viagem da minha professora. De volta ao Brasil, na nossa primeira aula pós-viagem, ganhei um lápis gravado justamente com a figura do quadro. Nem preciso dizer que fiquei muito contente. Não só por ter sido lembrado mas como pela incrível coincidência a respeito do tema, justo a respeito da minha obra de arte predileta.

Fiquei com dó de usar o tal lápis. Acho que isso carregamos todos nós desde a escola. Acabou virando um objeto de apreço. Coloquei-o no meu porta-lápis que, nada mais é do que um belo copo de vidro da Coca-Cola. Ficava lá, entre tantas canetas no meu escritório, no estúdio que tinha junto com um sócio, amigo meu.

Além da pena em gastar, vale a pena dizer que eu não uso lápis pra escrever. Me dá aflição aquela ponta arredondada e aquela letra grossa e rançosa saindo no papel. Só uso lapiseira 0.7 e de grafite mais mole, geralmente 2B. Lápis, pra mim, é um objeto que tem que permanecer intacto (meio doente mental, eu sei).

Um belo dia, chego no estúdio e encontro meu sócio com o meu precioso presente de escrita na boca. Ele estava se deliciando com a borrachinha, mastigando um suculento pedaço dela, já prestes a amassar o alumínio que segura a borracha. Arranquei a tempo dos dentes dele (pena que não levei nenhum junto) e fui avaliar os estragos.

- Porra cara, meu lápis do El Greco? Caralho, como você mastiga um lápis que não é nem seu?

Peguei um estilete. Não, não furei o estômago do meu sócio. Cortei o resto da borrachinha mastigada e deixei rente, como se tivesse sido usada até o fim. Ficou esteticamente recuperada.

O Lápis voltou para o copo de coca-cola. Anos se passaram, a sociedade acabou, fiquei freelando por uns tempos, acabei na agência onde estou até hoje. Agora o El Greco mora aqui na minha casa, em cima da minha mesa do escritório, dentro do mesmo porta-lápis.

Esses dias, ganhei do meu pai um quadro do M. Cavalcante, um artista plástico goiano. Trouxe aqui pra casa pra ver se ficava legal na minha sala. Ficou excelente. Preocupado em fazer os furos no lugar certo, fui atrás de algo para riscar a parede. Enfiei a mão no meu copo porta-lápis e puxei meu querido El Greco.

O lápis está completamente destruído.

Suspeitas?

Vou dar uma dica: começa com "J" e termina com "Ô".

O lápis está sem ponta, meio carcomido no lugar do grafite, com a gravura totalmente esgarçada, rasgada e semi-arrancada.

Agora me diz em nome do falecido Conde de Orgaz: o que diabos essa mulher aprontou com esse lápis?

Eu tô aqui tentando imaginar e, por mais hipóteses que minha mente formule, não encontro uma resposta palpável.

Será que a Jô não gosta de barroco?

Será que ela curte uma arte contemporânea e tentou dar uma modernizada? Romper com o estilo? Estabelecer um diálogo com o dadaísmo?

Será que acabou o macarrão e ela foi procurar a borrachinha pra comer? Aí quando viu que não tinha mais borrachinha ela tentou comer a gravura?

Será que ela tem merda na cabeça?

Bom, não vou jogar o lápis fora sem antes perguntar qual a proeza que ela realizou dessa vez.

Depois eu trato de me livrar dele.

Bom, há quem defenda que eu deveria me livrar dela.

Logo agora que ia bater o recorde de 8 meses sem espatifar nada...

Pois é, vou providenciar o enterro do enterro do conde de orgaz.

25 Comments:

Blogger 30 anos 200 palavras por minuto said...

Ando tão ocupada por esses dias; nem tenho lido os blogs; mas ontem a Cris falou de vc, me lembrei, e hoje vim ver se tinha novidades.

Muito bom! Só isso para me fazer nem assistir Bridezillas (rs...)

Ah, e claro, antes que eu me esqueça, meus pêsames pelo Conde.

beijos!!

12:07 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Faz tempo....Mas continua tudim lindo!!! Vc é inspiração com o que escreve!(Não só vc...rs. Nosso amigo tb.) Boa semana! Beijo Claudinha

12:57 AM

 
Blogger Fabi said...

Gasta, tu sabe que eu sou fã da Jô? Ela é minha faz merda favorita. Só nao trago aqui pra casa pq tenho três do mesmo calibre aprontando.

Em matéria de destruição nada melhor e mais potente que a Jô.

Faça um enterro digno pro cara, afinal ele não é o Chiquinho Scarpa, mas é conde.

Beijos

7:56 AM

 
Anonymous Anônimo said...

gaston
acho que vou pra toledo no proximo feriado que tem aqui, isto quer dizer semana do dia 11... me manda uma foto do lapis que se eu for eu trago pra vc!
bjos
Luiza

8:54 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Ai, como faz falta os seus posts, meu caro...

Adoro quando você escreve sobre as peripécias da Jô... rs

Mas dessa vez deu muita dó de você. Ai coitado do seu tão precioso lápis.

9:24 AM

 
Blogger Jo-Jo said...

ahhh não Gastón!!! Vc já procurou se há alguma câmera escondida pelo seu apto??? Tenho certeza que a Jô é atriz de um daqueles programas trash de pegadinhas, e vc, claro, a vítima e atração predileta dos diretores do tal programa....

9:30 AM

 
Blogger Tati said...

vamos olhar o lado positivo: isso é um sinal do El Greco para que vc pegue suas proximas férias e vá para Toledo, comer marzipã e comprar outro lápis. Entrar naquela igrejinha e ver, à direita o quadro do enterro é de arrepiar... Depois vc até agradece a Jô...
PS: Aproveita e me traz um bolo de marzipã, daquela padaria que tem as freiras em marzipã na vitrine!!!

bj

11:15 AM

 
Blogger urbenauta said...

Gasta:
Estranha essa história, espero que voce tenha manipulado esse lápis com luvas...

11:35 AM

 
Blogger Gastón said...

Rafa, vê se aparece mais vezes. Pode deixar, vou enviar suas condolências à família do meu amigo Conde.

Clau, querida, que bom saber que o que eu escrevo inspira as pessoas. As visitas de vocês me inspiram muito tb.

Fabi, a Jô é um mal necessário. É Material humano de alto potencial destrutivo e literário. Vou lançar uma campanha: improve your blog - contrate a jô.

Lu, você faria isso por mim? Putz, não tenho nem palavras. Vou mandar uma foto do quadro pra vc. Obrigado lindinha.

Érica, também faz muita falta não poder escrever e, principalmente, não ler os comentários de vocês todos os dias. Isso sim é que me dói no coração.

jo-jo, será? Será que a Jô trabalha pro Serginho Malandro?

Tati, taí, excelente idéia de destino pra minha próxima viagem: espanha. Aí eu visito a Lu em Barcelona e aproveito pra tomar uma sangria nas Ramblas. Boas lembranças...

Urbe, depois do seu comentário eu estou manipulando o lápis com robôs do esquadrão anti-bomba.

1:36 PM

 
Blogger Nana said...

Quando descobrir como a Jô destruiu o lápis, conta aqui? Fiquei curiosa!

2:21 PM

 
Blogger Nanda B. said...

O enterro do lápis vai ser na barriga dela?

5:31 PM

 
Blogger Nanda B. said...

EM TEMPO: acredito que se você for olhar na nuca da jô, vai encontrar o número 666 gravado.
Saudades de você, garoto!

5:34 PM

 
Blogger UrbAnna said...

Fala sério... depois ninguém entende o que leva uma pessoa a ter seu rosto estampado no Linha Direta com a seguinte manchete:
"Homem abandona família, casa e emprego e desaparece no mundo após esquartejar a própria empregada doméstica com cacos de copos de vidro e um lápis com uma gravura de El Greco!
Se você viu esse rosto, ligue imediatamente para o Linha Direta, você pode ajudar a solucionar este caso."
Francamente... É caso de polícia!
Minhas condolências.
Beijo

5:44 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Jô.. Não se fazem mais Jôs como antigamente ;-)
beijos, Jô, Jobs, Pol.

7:42 PM

 
Blogger Gastón said...

Nana, eu juro que conto.

Nandinha, tô pensando em enterrar na orelha, o que vc acha? Quem sabe eu atinjo alguma parte do cérebro dela e faz uma ligação direta. Tb to com saudades, um choppinho é altamente recomendado nessas ocasiões.

Anna, não me denuncia. Se não vao te entrevistar mudando a sua voz e colocando vc contra a luz.

Jobs, vc é a melhor das Jôs desse mundo. Adoro quando vc comenta. Saudade permanente ;0)

8:33 PM

 
Blogger Gatta said...

Ela rende posts, é fato. Mas sinto que ainda verei uma manchete na parte trash do Terra: empregada cai do décimo terceiro andar de prédio nobre no Morumbi.

8:37 PM

 
Blogger UrbAnna said...

Gasta,
Não tema! Eu não te denunciaria num caso desses, devido à gravidade do que ela fez com seu El Greco eu seria sua cúmplice, álibi, e o que mais fosse necessário!
Beijo

10:49 AM

 
Blogger mc said...

ah, que dó...

nem sei porque eu comento aqui, você não passa no meu blog há exatos CINCO posts.

Francamente.......

5:20 PM

 
Blogger Ana Téjo said...

Talvez seja prudente devolver o quadro que seu pai deu.
Só para o caso dela não gostar MESMO de arte...

6:09 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Você já descobriu o nome da Jô?
Bjs. Rosana.
PS: eu odeio ela.

12:08 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Gasta,

pela primeira vez tive o privilégio de ouvir a história ANTES de ler o post! (mas é claro que o post é muito mais recheado de meandros e detalhes saborosos...) Sinal de que o Almir Sater nos aproximou, né? Aliás, aproveito para agradecer mais uma vez e publicamente pelo generoso presente.

Menino, você escreveu essa semana! Que bom. O meu mulher solteira tá meio abandonado.

Beijão pra você, vou ler os outros posts!

1:46 AM

 
Blogger Gastón said...

Gatta, ela rende posts. mas se ela cair daí não serei eu quem empurrou. Porque eu moro no 13º andar de um prédio não nobre do morumbi.

Anna, ainda bem. Então vc vai aparecer no linha direta me defendendo. " O Gasta? No momento do crime ele tava aqui comentando um comentário meu. Impossível ter sido ele"

Ah Rânei... eu não passava nem no meu blog ultimamente...

Rosana, não odeie a pobre Jô. Ela tem tantos fãs aqui. E não, nem descobri o nome dela. Quando eu descobrir vai rolar um post exclusivo.

Cris, viu só? Post narrado em primeira mão :0) E o show foi o máximo. Que ótimo que vc gostou. Agora vamos cantaaaaaaaar lalalalalalá!

10:17 AM

 
Blogger MH said...

traidoooooooooooooooooooor!!!
eu até ia comentar. Mas aí vi que vc não só FOI ver o Almir Sater sem migo como levou outra! humpf!

hehehehe
espero que tenha sido ótimo. A companhia eu sei que foi. Invejinha branca, vocês lá e eu chacoalhando por estradas de terra numa área abandonada do Mato Grosso...

5:41 PM

 
Blogger Isabella Kantek said...

Eu não acredito!!! Fiquei triste por você. Essas Jôs...
Beijo.

8:28 PM

 
Blogger Renatinha said...

adoro a Jô e as histórias dela..... bjs

3:37 PM

 

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