Dentro das minhas ousadias de férias, das minhas afrontas ao sistema, dos meus desafios aos paradigmas, resolvi exercer o mais audacioso plano para uma tarde de terça-feira útil: fui sozinho ao cinema assistir um desenho animado. E durmam com essa: fui a pé!
Ok, o cinema fica há 3 quadras daqui de casa. E na verdade eu fui a pé porque estou na minha fase muquirana e considerei uma afronta pagar 4 reais de estacionamento pra parar num lugar de onde eu vejo a sacada do meu apartamento.
Por falar em muquirana... paguei 6 reias de entrada. Matinê com carteirinha de estudante.
Por falar em muquirana novamente, faz tempo que o cineminha deixou de ser o programa de quem tava meio duro e sem opção nessa cidade. Eu, em
uma outra encarnação, até já abordei esse assunto. Mas toda vez que eu volto no cinema, o preço das coisas me revolta.
Dentro de todo o meu espírito guerreiro de hoje a tarde, estava nos planos comprar um saco de pipoca e um refrigerante médio. Só pra completar o mis-en-céne todo. Pra falar: “fui no cinema comi pipoca e tomei um refri”. Tem bem mais efeito moral.
Chegando na frente do balcão, tinha uma família se equipando de combos, canudos e guardanapos. Sabe quanto o cara desembolsou? A bagatela de 46 cru-cru. Fazendo minhas famosas continhas básicas, se ele e a mulher pagaram entrada inteira e os dois fihos pagaram meia, morreu 82 reais no “cineminha”.
Aí chegou a vez do revoltadinho aqui comprar.
- Me vê uma água.
Comprei só uma água. E nem falei obrigado. O obrigado tá inclusos nos 3, 20 que eu paguei. Aliás, eu já fiquei suficientemente empipocado de raiva...
Pois quando eu crescer quero ser pipoqueiro. Porque um saquinho de pipoca pequeno no UCI custa 7 reais.
Com 7 reais você compra, nada mais, nada menos do que 2 kilos de milho de pipoca. Se eu estourar 2 kilos de milho de pipoca na minha casa, vai ter uma cascata de pipoca caindo da janela do 13 andar durante uns 15 minutos.
Ok, acabou a sessão canguinha. Eu inclusive já abri a mão pra poder digitar esse post.
Dentro da sala uma meia dúzia de mães e avós com 2 ou três pequenos a tira colo. E eu, um cara com a barba por fazer com uma garrafinha d’água na mão.
O filme é ruim. Assisti “O Bicho vai pegar”. Um dejavú de filmes infantis cheio de formulas misturadas. Um urso que poderia ser o Shrek, um alce que poderia ser o burro e por aí vai. E, pra variar, só eu ria com as piadas da história.
E, pra variar também , tinha uma vovó daquelas com voz de efizema pulmonar que falava mais que o neto dela. Ou era efizema ou enroscou uma casquinha de pipoca na garganta dela. Ô véia faladeira, tava na sala da casa dela...
No fim das contas valeu mais pela experiência do que pelo filme ou qualquer outra coisa.
Na volta eu comprei um saco de pipoca no carrefour. Se em outra oportunidade eu queria entrar no cinemark com um galão de 20 litros d'água e sair distribuindo em copinhos de plástico como forma de protesto, dessa vez resolvi capitalizar: pensei em fazer a pipoca e vender na porta do cinema.
- Olha a salgada e doce...