Churrasco, Churrasco.
Antes de começar esse texto, queria registrar uma frase célebre de um grande amigo meu:
Churrasco tem que ter carne, caaaaarne, cerveja, cerveeeeja e amigo, amiiiiigo. Porque Churrasco com Frango, guaraná e vizinho não é churrasco.
Vinte e cinco pessoas num churrasco, churraaaaaasco. Entre elas, esse filho de Deus que vos escreve.
O dono da casa pilotando os espetos. Picanha, linguiça toscana, uma costela de boi há 36 horas no bafo. Sol de rachar. Cerveja saindo do isopor e passando de mão em mão a toda hora. A uma certa altura dos acontecimentos o cunhado do dono da casa pega aquela travessa de madeira cheia de carne e sai oferecendo pra todo mundo.
- E aí Gaston, vai uma carninha? (carne oferecida em churrasco sempre vem no diminutivo, não me pergunta porque).
Não Pedrão, obrigado. Tô aqui sossegado. (nome de amigo churrasqueiro sempre vem no aumentativo e também sei lá porque).
E vem a segunda rodada:
- E ai Gaston, Picanhinha?
- Valeu Pedrão, tô aqui só na Maionese.
E tome a terceira rodada:
- Gaston, experimenta essa linguicinha.
- Ô Pedrão, essa eu vou passar rapaz.
- Que é isso cara, tá de regime?
- Não rapaz, é que eu parei de comer carne vermelha.
As 25 pessoas param imediatamente de falar e olham pra você. Som de criança chorando ao fundo. É impressionante. Parece que você acabou de confessar que bate na própria mãe.
- O quê?
- É, já faz uns 2 meses que eu não como.
- Ô cara, daqui a pouco você vai dizer que não bebe mais também, depois vai dizer que tá usando saia...
Por que será que as pessoas associam tanto o churrasco à masculinidade? Coisa mais neandertal...
- Não Pedrão, eu não disse pra você que não como mais mulher, eu disse pra você que eu não como mais carne vermelha. Capiscce?
- Beleza então... Meio sem jeito ele emenda
- Vai sair uma azinha de frango daqui a pouco, sabe cumé, frango demora mais pra ficar pronto né.... Bom, passado o susto, aos poucos tudo volta ao normal. As pessoas voltam a conversar, a criancinha para de chorar, o ciclo da travessa de carne volta à rotina.
E vou falar que de repente até me dei bem porque sempre que você confessa que não come carne, junta umas 2 ou 3 vegetarianas solteiras do seu lado, com um pratinho cheio de alface, aquele olhar de aprovação e cheias de solidariedade.
E essa agora é a via crucis. As pessoas tem que se acostumar com o fato de que tem alguém na turma (e na família) que não come carne vermelha. Outro dia mesmo eu fui numa reunião na casa de uns amigos e um deles levou 80 esfihas. TODAS de carne. Pedi uma pizza... É, as vezes dá um certo desconforto.
Não sei, pode ser que daqui um tempo eu volte a comer. Por enquanto, nada que me impessa de ir a um churrasco, churrasco... e no mínimo me entupir de pão com vinagrete enquanto elogio o filet mignon.