Pequeno ensaio de solidão III
Um estranho cheiro daquelas balinhas coloridas e azedinhas que eu gostava de pedir pro meu pai comprar nos postos de beira de estrada.
Nem me lembro pra onde íamos. Mas sempre que íamos, ali estava eu querendo-as. Eram incrivelmente boas e lindas. Me perguntava (e ainda me pergunto) como as faziam.
Sei lá de onde veio esse cheiro agora, aqui no lugar onde eu trabalho. Provavelmente de lugar nenhum.
Hoje tudo passa por mim como esse cheiro de balas. Me traz lembranças, me faz sentir e não sei de onde vêm e pra onde vão.
Meus olhos tremem, minhas mãos tremem, minha alma treme também.
As coisas precisam ser cortadas em pequenos fragmentos para que eu dê conta. Assim como o remédio que corto ao meio manhã sim, manhã não.
Não posso com muitas pessoas. Não posso com muitas mulheres. Não posso com muitas tarefas. Não posso nem comigo mesmo.
Bom que as vezes o destino faz as vezes de polícia e conserta esse tanto de pressa e cagada que a gente faz. Que bom que as vezes o destino divide o remédio e enfia goela abaixo da gente.
Pequena nota: chega de bebida. Ela se disfarça de alegria e me ataca pelas costas.
Preciso que o tempo passe, preciso que as pessoas desistam, preciso da minha casa, preciso que alguém sobreviva.
Até o que me faz bem, me faz mal. Preciso então de compreensão.