terça-feira, março 13, 2007

Respeitável público

Adoro teatro. Se eu vou ao teatro é com gosto que sento numa das fileiras pra ficar assistindo. Mas peça com interação do público... Já paguei o ingresso, não quero pagar mico também. E isso quem tá falando é um sujeito que passou um terço da própria vida em cima do palco. Quando vejo que vai ter participação de alguém da platéia já começo a suar frio.

Por isso dou preferência para as cadeiras do meio e mais ao fundo. Lá dificilmente alguém vai me encher o saco. E aquela cara de que não é com você quando o ator desce pra pegar alguém pra cristo? Metade do teatro fica disfarçando, olhando pro nada, com um sorrizinho amarelo na cara, fingindo que não respira e tentando ficar invisível.

Passa longe pelo amor de deus.

Também não sou chegado em espetáculo inesperadamente obrigatório. Me lembro de uma vez em Embu das Artes, almoçando num daqueles restaurantes típicos de pé na jaca da região quando um bobo da corte de 2 metros de altura entra no recinto e começa a recitar poesias entre as mesas. Preparei um torresmo de emergência pra acertar no olho do infeliz se ele ultrapassasse uma certa margem de segurança anti artista mambembe.

Todo mundo para de comer, de conversar, de se mover e fica com aquela cara de idiota descrita acima, rezando pro cara terminar logo e se mandar. Sei lá porque, mas constrange a maioria das pessoas. A mim inclusive. Sem falar que a comida esfria. Meu tutu ficou gelado.

No fim das contas o bobo que de bobo só tem o nome tira o chapeuzinho e recolhe uma grana. Aí quem se faz de idiota sou eu e não dou nada.

E moleque malabarista de farol? Ô coisa constrangedora. E meio burra também ? Porque quando era novidade a gente até dava uma moedinha pelo "espetáculo". Mas agora que tem cinco moleques se contorcendo na frente do seu carro em cada sinal vermelho de São Paulo... esses meninos precisam de uma aulinha de logística. Já que é pra pedir grana, com o famoso "ô tio, dá um trocado?" ele consegue abordar uns 10 carros por farol fechado. Fazendo malabarismo ele fica lá que nem um tonto na frente de um carro só, cansa os braços e não ganha nada. E a gente fica fingindo que tá mexendo no rádio, vendo celular, abrindo porta-luvas....

Bem que eles tentam dar uma variada usando pauzinho, tacando fogo, dando voltinha...

Me lembro de uma vez, ali na Faria Lima, quando dois moleques vestidos de calça social e camisa branca começaram a dançar uma coreografia sincronizada na frente do meu carro. Achei aquilo sensacional. Dei uma grana pros dois. Mas depois fiquei pensando se a moda pega. Setecentas duplas de funk coreografado dançando passinhos na cidade. É difícil ser original hoje em dia.

Gosto de cada coisa no seu devido lugar. Platéia na platéia, ator no palco, malabarista no circo e bobo da corte poeta no quinto dos infernos.

De surpresa já chega a minha fatura do cartão de crédito.

12 Comments:

Blogger Tati said...

Também detesto, mas por incrível que pareça, não foi aqui no nosso país que mais passei constrangimento por causa disso. Foi em Barcelona. Em cada mesa que sentávamos para comer pelo menos 2 artistas vinham para atazanar. Desculpe arte pela arte, mas goela abaixo ninguém merece!
beijos

8:22 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Sinto-me bem mais compreendida agora!
Ótimo!!!!

9:19 AM

 
Anonymous Anônimo said...

errrrrrrrrr... o que eu fiz????
Meus comentários se multiplicaram!!! hahahahaha
É MTAAAAAAA compreensão... rs

9:20 AM

 
Blogger MH said...

Nossa, a Ana se sente beeeeeeem compreeendida mesmo, hein, x4! rsrsrs

Arte é arte, e coisa e tal, mas invadir minha privacidade é imperdoável!

Eu vi 2 meninos fazendo coreografia uma vez, faz tempo, adorei! Fenomenal, dei um trocado pra eles tbem... melhor que malabarismo.

9:21 AM

 
Blogger Gastón said...

Tati, lembrei tanbém daqueles repentistas nas praias do Nordeste. Dá vontade de matar.

Aninha, que bom que vc se sente compreendida. Eu também compreendo vc e apaguei as milhares de repetições do seu comentário ;0)

Beibem não era fenomenal esses moleques? Pareceiam o Milli Vanilli.

9:34 AM

 
Blogger mc said...

Eu já fui vítima de palco.
Eu não dou dinheiro no farol.
Eu tbm prefiro surpresas agradáveis. A-GRA-DÁ-VEIS, tá entendendo???

PS- ah, e eu tbm gosto de comentários no meu blog!!!

10:20 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Será que alguém gosta de fazer papel de idiota em teatro? Tenho coceira só de imaginar isso!
Fiz Belas Artes... aquele pessoal de artes cênicas me causou traumas fortes.... no meu trote... tive de subir numa árvore e miar como gatinha.... por horas!!!!!!! bjs Re

12:25 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Também tenho um medo danado de ser pego no teatro. Sou tímido. Legal mesmo é cantar Sole Mio Cover na TAM.

4:35 PM

 
Blogger Jo-Jo said...

De todas as surpresas, de fato, a minha pEor é a do cartão de crédito também........srsrsrsrs

11:52 AM

 
Blogger Gastón said...

Rânei, ahahahahaha. Sim, agradáveis. Como ganhar CD com poeminha do amigo?

Re, eu quase fiz artes cênicas. Fiz 9 anos de teatro. Mas não nunca interagi com o publico assim. è foda.

Rods, vc é nosso Pavarotti. Solta a voz. Não, pra dentro não, pra fora Rods.

Jo-Jo, realmente, o cartão tem me deixado bem mais envergonhado :0)

6:25 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Gastón, que história é essa do seu amigo cantar Sole Mio Cover na TAM? Me identifiquei... tenho uma imitação de Maria Betânia que modéstia a parte é uma beleza, especialmente quando estou gripada... mas só faço uso dela em ocasiões especiais e para público seleto!
Beijão,
Cris.

2:12 AM

 
Blogger Gastón said...

Cris, tudo o que eu mais quero agora é estar no momento certo no lugar certo e ser a pessoa certa.

7:33 PM

 

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