Funcionário do Mês.
Uma coisa que sempre tira todo mundo do sério. Aqui em Sampa, como em qualquer grande capital, eles se proliferam.
Gastón
- E aí Dotô, posso dar uma olhadinha?
Deu ódio? Vontade de bater do infeliz? Quis parar o carro em cima da cabeça dele?
Flanelinha é uma praga. Um praga e um milagre do capitalismo moderno: a "profissão" auto-sustentável. Sim, porque ele protege o carro contra ele mesmo. Ou você resolve pagar ou, assim sem querer, aparece um rasgo na sua lataria de ponta à ponta, seu rádio inexplicavelmente some, seu pneu voluntariamente murcha...
Tem um amigo meu que já ia dizer "Olha, mas o cara podia estar roubando, podia estar matando, podia estar fazendo uma performance no farol..."
Bom, eu digo: guardador de carro me tira do sério.
- E aí chefia, deixa uma cerveja pra nóis aê na volta?
Cara de pau! Quer dizer que você vai pro boteco saindo daqui gastar minha grana em cerveja? E pra mostrar serviço ele vem atrás do seu carro e começa:
- Vem mais Dotô, pode vir, isso, aí deu tá bom, tá bom!!
Ah, eu fico de mau humor. E deixo isso bem claro pro sujeito.
- Moço, posso tomar conta?
- É, pode né....
Tenho raiva extra pelos flanelinhas de ocasião. Aqueles que aparecem que nem mosca de padaria em volta de show, jogo de futebol, feira, evento... daqueles que ficam no meio da rua com um braço apontando pra você e outro balançando na direção da vaga, sabe?
Vai no show Dotô? Tamos cuidando aqui da área, beleza? Deixa aqueles cinco real pra nóis que tá em casa.
Eu dou 1 real e olhe lá.
- Pô Dotô, só isso?
É mole? O cara tá numa rua que não é dele, cobrando por algo que basta estar acordado para automaticamente qualquer ser humano começar a fazer, não vai mover um músculo se alguém resolver roubar o meu carro (pra se borrar nas calças talvez...) e tá reclamando da grana?
Mas eu não quero ser injusto com todos os flanelinhas não. Em todo ramo de atividade sempre tem um profissional de destaque. E eu conheço um que é meu camarada e eu considero pra caramba: o Bahia.
O Bahia é o cara que toma conta do meu carro lá na FAAP. A praça Charles Muller, aquela em frente ao estádio, foi literalmente loteada e o meu pedaço é de total responsabilidade dele. Também tem que entender que 4 horas num estacionamento perto da faculdade não sai por menos de 10 paus.... e pro Bahia eu pago 2.
Fora que o serviço é de primeira.
O sujeito é um verdadeiro filósofo:
- Então, tem um dia aí que chegou uma mina lá com um baita carrão e pá, começou com umas história aí que tava precisando de uns carinho e me perguntou se eu trampava aqui faz muito tempo... aí a minha veio se chegando tá ligado...
É um lord inglês de educação:
- Ô meu querido, um bom fim de semana pra você viu, só quinta que vem agora? Então tá beleza até quinta. Fica com Deus.
É desapegado de bens materiais:
- Não esquenta não. Semana que vem você acerta, não tem pobrema não.
Informa sobre os eventos do Pacaembú:
- Então chefia, quinta que vem tem jogo do Curinthia, então se você vier aí tem que chegar mais cedo mas pode deixar que a gente vai tá por aqui.
É comentarista esportivo:
- Vixe, o São Paulo já era ó, perdeu ontem do Goiás...
Eu sustento a teoria de que o Bahia mora numa daquelas mansões ali perto e que algum daqueles carros importados estacionados é dele. Ele tá sempre de moleton da GAP, boné da Ralph Loren... pra mim, tudo original. Teve um dia que ele até apareceu de chapinha no cabelo!!!
Plausível? Vamos fazer uma continha básica:
A média de grana que cada um contribui diáriamente é 2 reais. Em cada período ele deve cuidar de uns 50 carros. Se ele fica lá dando duro o dia todo e a FAAP funciona em 3 períodos, são 300 paus numa boa jornada. Em uma semana são 1.500 reais e em um mês 6.000.
Posso fazer uma pergunta? Quem aí ganha 6 paus por mês? Quem tem 3 meses de férias por ano? Quem não tem chefe?
Hoje o Bahia não estava mais lá. Sabe como é né, tá chegando as férias e o movimento diminui muito... Ele deve estar lá na Costa do Sauípe, com uma namorada Dinamarquesa, tomando um coquetel de frutas exóticas e comendo um camarãozinho.
- Ô Bahia, manda um postal! (vou pedir né, vai que ele levou o notebook e tá lendo o blog...)
9 Comments:
eu lembro desse! já passei raiva da primeira vez, agora quero andar com um pé de cabra, se oferecer pra dar uma olhadinha toma na cabeça...
11:53 AM
Eu estudei na Faap há 15 anos (cinema, à noite), e adivinha quem tomava conta do meu carro????
O BAHIA!!!!!!
O BA-HI-A...
Era isso mesmo, ele era cheio das dicas e puxava o maior papo.
4:21 PM
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA.. fala sário, Gaston, to com dor na barriga de rir.. HAHAHAHAHA.. muito bom!!! É assim mesmo! Nossa, eu e minha mae estamos dobrando de rir!
Caia
8:26 PM
Lembrei de vc hj, Gaston.. fui almoçar na feira da Liberdade.. só aparecer uma vaga para os flanelinhas chegarem e já avisarem da cervajinha q vou ter q deixar na saída.. mas quando saí o cara estava longe.. aí vem aquela adrenalina para entrar no carro, dar a partida e sair da vaga antes do figura chegar.. o cara veio correndo mas nao deu tempo..hahahaha.. escreveu nao leu, o caximbo caiu!!
Caia
3:50 PM
hehehe, flanelinhas são um cancro na cidade.... o que mais me deixa irada é quando pedem na chegada.... Por que??? Não vão ficar até eu voltar?? Então por que proteção vou pagar??? revoltante!!!
10:09 AM
A sorte dos habitantes de são paulo é que os flanelinhas aqui nunca fizeram pós-graduação no Rio. Lá eles não pedem: exigem. Eles seguem a famosa técnica didática "Dadinho é o caralho, meu nome é Zé Pequeno". Os resultados são impressionantes.
11:15 AM
Lindo Gastón
Ao menos tem um arrumador de carros com classe, lol, em Portugal é a mesma coisa, são uma praga.
Beijo
5:24 PM
nesse sábado, passei em frente ao ibirapuera e vi um grupo de flanelinhas fazendo rodízio da vez, como vendedoras de lojas de shopping - quem atende um freguês, vai pro fim da fila... é mole?!
5:38 PM
Beibe, olha o tipo de violencia. Passa por cima com o carro que é mais garantido.
O que??? Clau, vc conhece o Bahia? Fantástico.
Caia, você e sua mãe me deixam com saudades :0) E esse lance de sair correndo antes do cara chegar é fantástico. Adoro fazer isso.
Tati, e quando o cara pede no jogo de futebol e depois vc encontra ele na arquibancada?
É Rods, os de Sampa são educados. Gentlemans.
Rubina, quer dizer que essa praga está além mar também? Que inferno... devem ser todos brasileiros.
Manoelita, o negócio é organizado. Rodízio, folga, férias, loteamento de ruas. Desorganizado é aqui na agência...
11:20 PM
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