quarta-feira, novembro 22, 2006

Bom de cama.

E lá está Gastón no meio da loja de colchões.

Quando mudei pro meu apartamento, levei junto minha humilde caminha de solteiro. Velha de guerra, companheira de muitos anos. Foi bom tê-la nos quase dois primeiros meses de adaptação, afinal de contas, nada melhor pra ajudar a me sentir realmente em casa.

Obviamente não foram (e ainda são) poucas as vezes em que eu acordei de manhã e, por alguns instantes, achei que ainda tava na casa da minha mãe.

Foi então que decidi dar a derradeira chulapa no meu cartão de crédito (que tá com a tarja magnética sumindo de tanto usar...) e comprar minha cama de casal para a vida de solteiro versão 2.0.

Cama nova, colchão novo, travesseiros novos, lençois novos. Agora só falta... bem, só falta mesmo fazer juz ao termo “de casal”.

Mas vamos pular essa parte.

Escolher uma cama é uma das coisas mais bizzarras do mundo.

Se você vai numa loja de roupas, entra num provador e veste a roupa. Se vai numa loja de calçados, tira o sapato e dá uma voltinha com o novo par. Num restaurante, prova um gole do vinho. Agora se você vai comprar cama, tem que ficar deitando que nem um idiota em tudo quanto é colchão na frente de um monte de gente.

É um festival coletivo de VPP. Um zoológico de tanto mico.

Aquela loja imensa, cheia de modelos, tamanhos, espuma, mola, mola ensacada, mola ensacada e importada, mola ensacada, importada, aprovada e testada...

O pior é que cama não dá pra escolher só de olhar. É o lugar onde você vai passar metade da sua vida, onde vai desfrutar o sono dos justos, onde seu esqueleto vai descansar.

E o cara da loja vai com a maior naturalidade:

- Deita pro senhor experimentar.

E eu sentava na ponta da cama e dava aquela chacoalhada pra ver se o colchão ela bom.

- Deita, pode deitar.

E eu ia mais pro meio da cama e chacoalhava com mais força.

- Senhor, o senhor não vai deitar?


Tava com o cérebro quase saindo pela orelha de tanto me chacoalhar naquela merda mas não teve jeito, se eu não deitasse o sujeito não ia me dar folga.

Inferno... Aí eu deitava mas ficava com as pernas pra fora, já quase pronto pra levantar de novo, olhando meio que pro infinito, pra dar impressão de que nada de anormal estava acontecendo.

Aquele colchão era ótimo, tava na promoção e eu disse que era o colchão dos meus sonhos antes que o sujeito me mandasse experimentar outros dez.

De repente, do outro lado da loja eu vejo um casal de gordinhos se refestelando na cama. Eles deitavam de lado, de bruço, de barriga pra cima, trocavam de lugar, abriam os braços, davam mortal, cambalhota, duplo-twist carpado...

Enquanto isso a filha adolescente deles andava meio perto de mim pra fingir que era minha irmã. Eu me compadeci da garota. Vem cá maninha, vamos ver travesseiros ali do outro lado da loja enquanto o papai e a mamãe curtem uma de Daiane dos Santos. Só faltou tocar o Brasileirinho.

Bom, paguei em suaves prestações e sai correndo daquela loja de gordinhos com complexo de feijões mexicanos saltadores.

Em pouco tempo me acostumei a dormir esparramado e com dois travesseiros da NASA. E diz aí quem é que estranha muito uma cama grande e macia...

Aliás, me dá licensa que tá ficando tarde e o Pluto já passou por aqui com aquele chapéu de chinês e um saco de areia nas costas. Quem entendeu o comentário pode vestir a carapuça da idade avançada.

Vocês podiam dormir sem essa.


Ps. Vou acabar relendo esse post durante o dia e algo me diz que vou sentir falta desse momento.

7 Comments:

Blogger Tati said...

excelente, querido! já presenciei cena parecida, mas com os famosos tênis de correr.... Uma grande amiga, no meio da Nike Town da chiquérrima esquina Rodeo Drive em Los Angeles experimenta INÚMEROS pares de tênis de corrida e literalmente CORRE pela loja..... Sem exagero, acho que naquele dia ela perdeu uns 3 kilos no jogging. Bem estilo "gordinhos do colchão"!
beijos

6:45 AM

 
Blogger Tati said...

ps: esqueci... imagina se essa moda pega..... Como vamos escolher os inúmeros modelos de camisinhas existentes? hahaha
beijos

6:46 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Merda, eu entendi o comentário do Pluto...

8:49 AM

 
Blogger Renatinha said...

Amei seu post...
Ufa, não entendi o Pluto...
Olha comprei meu colchão por telefone, liguei para uma fábrica e ouvi as opções e escolhi uma (pelo preço, óbvio) e sou feliz com a minha escolha... já os travesseiros... comprei de pena de ganso, meu marido ecológicamente correto demais, mandou devolvê-los, pois era um absurdo, mas insisti e fiquei com eles... mas às vezes saem umas penas que ficam me pinicando... não foi boa escolha despelar os pobres gansos.... bjs

11:08 AM

 
Blogger Cláudia said...

Não entendi o Pluto, será que a minha idade é avançada DEMAIS?

1:21 PM

 
Blogger Gastón said...

Tati, isso dá cadeia. Atentado violento ao pudor.

Rods, vc tá dobrando o cabo da boa esperança meu filho...

Rê, vc é mesmo uma pessoa moderna. Mas vou te falar uma coisa: troca esses de pena de ganso pelos travesseiros da NASA. Depois você me conta.

Clau, você não via desenhos da Disney?

1:25 PM

 
Blogger Cláudia said...

Muitos, inclusive quando Bela era pequena (pelo menos 55 vezes cada um), mas não lembro desta cena não.
Merecia um post!

3:42 PM

 

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