domingo, março 16, 2008

marco-zero


Um ode à decadência, à loucura e ao abandono. Por todos os lados faltam dentes nas bocas e moedas nos bolsos. Ali a esperança é você, que vaga incrédulo num hospício a céu aberto. Num albergue de papelão. Entre refugiados da civilização. Pra te pedir um trocado, inventam uma história cliché. Cheguei aqui e não sei voltar. Preciso ir para algum lugar. Moço, me compra um marmitex? Você não vai me bater, vai?
Um sujeito com uma toalha azul na cabeça jura que é São João Batista. Cheirando mijo ao invés de sândalo. Inspirando pena e não fé. O povo se aglomera em torno de qualquer grito mais alto. Do pastor, do cantor, do mágico, do trapaceiro. Em torno da própria falta do que fazer. Dos mesmos golpes, truques, músicas e salmos. De frente pra catedral, de frente também pra uma arquibancada desatenta. As cabeças ali não funcionam mais. Um retardamento solitário. Das bocas que engruvinham pra dentro das mandíbulas que tem fome de chance.

No marco-zero dessa cidade.

18 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Forte. Deu pra visualizar bem a cena.

Gostei, mesmo sendo bem diferente do que estou acostumada a ler aqui.

Beijo.

11:05 PM

 
Blogger Mulher Solteira said...

UAU! Tá aí um Gastón que eu não conhecia. E que falou ao meu coração.
Beijo!

12:34 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Que bonito! Adorei a foto também!

9:15 AM

 
Blogger Rodolfo Barreto said...

É um pátio de hospício.
É um banho de sol em um presídio.
Todos loucos e presos a um destino infeliz.

É bom tomar essas porradas na cara de vez em quando. Vamo que vamo.

10:36 AM

 
Blogger Ana said...

Gaston
texto fantastico, parabéns! Nada poderia retratar melhor a decadência do nosso centro...
Bjs

12:04 PM

 
Anonymous Anônimo said...

para dias como esse, um café para viagem.

12:38 PM

 
Blogger Gastón said...

eh Carolzinha, depois de uma experiência como essa, fica difícil fazer rir. Então resolvi fazer pensar.


Mulher Solteira, Gastonildo tem muitas faces.


Erica, obrigado :0)

Rods, porrada na boca do estômago. Foi difícil.


Obrigado Ana. Logo o lugar que deveria ser o mais bonito dessa cidade...


Gica, pra dias como esse, o meu bem forte.

1:45 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Eu ainda fico confusa nessas situações...Não sei o que fazer e ao mesmo tempo sonho tanto em poder mudar essa realidade. Queria ser um Super-heroi!!
Tirando isso vc tá bem, né?! Quando é que vc vai vir em VIX???? Beijos, Claudia Aleixo.

2:07 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Surpresas por aqui.

12:44 AM

 
Blogger UrbAnna said...

Pode apostar que o texto cumpriu sua função!
E de vez em quando a gente precisa acordar e ver uma outra face da vida!
Beijo
(urb)Anna

8:16 AM

 
Blogger Vane said...

Gostei do teu texto, muito bem escrito!
Só pelo conteúdo deste blog, se tu escrevesse um livro de tudo que tem aqui, eu compraria =D

Beeeijão da Lady! =*

8:29 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Fiquei pensativa...

11:52 AM

 
Blogger MH said...

Muito bom. Uma verdadeira ode a praça da república, a estação da luz, ao largo de santo amaro e aos cantos mais encardidos da nossa cidade.
Tu és o avesso, do avesso, do avesso, do avesso...

10:18 AM

 
Blogger Thaty said...

uaaaaaaaaaaal... me lembrou um texto que eu li na faculdade, sobre uma pessoa que comia restos de comida no lixo e ngm sabia exatamente o que era, se era bicho, monstro ou apenas um homem... Nossa, achei bárbaro seus textos... Visitarei sempre... Obrigada pela visita!
kisses

1:42 PM

 
Blogger Gastón said...

Clau, quem é viva sempre desaparece heim?

Michel, bom variar. E a gente as vezes se pega numas coisas que não dá pra deixar passar em branco.

Anna, é sempre bom sair um pouco do conforto e confrontar o que é real.

Lady, quem sabe um dia um pouco disso vira um livro.

Fê, tua cidade adotiva tem esse lado que é ruim de ver.

MH, quanta gente sem vida nessa cidade. triste meu chapa.

Cinderela (vou te chamar assim, posso?), seja muito bem vinda :0) Que ótimo que gostou. A recíproca é verdadeira. Venha sempre.

12:21 AM

 
Blogger Celeste Garcia said...

Infelizmente, não comprei um quiosquinho e nem me refugiei pra Passárgada (apesar de, no lugar donde eu eu fui, REALMENTE haver um quiosque chamado Tia Celeste. Agora penso que podia ter comprado ele,decerto não mudaria muita coisa lá ;o).

Esse texto intensificou a descrença que sinto esses dias (ufa, então não sou só eu que estou assim).

Desculpe por tamanha ausência, Gáston. Já ocorreu tanta coisa,mas há tão pouco tempo...

Um beijo pra ti
muah :*

10:01 AM

 
Blogger Gastón said...

Ah, você voltou Celeste :0)

Que bom. Já tava achando que minhas teorias eram verdadeiras rsrsrs. A ausência foi sentida mas não precisa ser desculpada. Importante é que está de volta. Beijo.

10:58 PM

 
Blogger . fina flor . said...

que bonito!

o fechamento do texto ficou perfeito: forte e expressivo.

adorei.

beijos e boa semana, querido

MM.

ps: sempre que estou numa onda badauê lembro de ti, sabia? kkkkk

3:01 PM

 

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