Céu de brigadeiro.
Tem um cara chamado Théo. Na verdade é Theodoro mas, por motivos plausíveis, ele gostava mais de Théo. Acho chato falar que ele era um cara comum. Ninguém é comum. Todo mundo faz uma coisa legal, tem um dom especial ou se destaca em alguma coisa. Aliás, olhando por esse prisma, o Théo era um cara bem incomum. Mas o que eu queria dizer é que o Théo é um cara normal. Salvo algumas deficiências que a vida apronta, as pessoas tem 2 pernas, 2 braços, tronco, cabeça, duas orelhas, um nariz... o Théo é assim: igual a mim, igual a você.
Como todo cara normal que se preze, ele também, vira e mexe, aparecia pendurado atrás de algum rabo de saia. Era meio tímido, mas sempre dava seu jeito pra conquistar alguém. Inventava cada traquitana pra seduzir as mulheres, que no fim das contas acabava levando o primeiro prêmio no quesito originalidade. Sempre tentou achar alguém legal. Mas não dava muita sorte. Ficava sempre jogando na loteria pra ver se esse negócio de azar no amor, sorte no jogo dava certo.
Até o dia em que o Théo encontrou a Chloe. Foi tudo bem casual. E quanta fortuna naquele encontro. Ela tava descendo no elevador do prédio onde morava um amigo dele. Cheio de livros nas mãos, o Théo acabou topando a menina que começou a dissertar sobre o exemplar mais acima da pilha, um amarelinho do Paul Auster. Isso rendeu uma conversa no saguão do prédio, um livro emprestado, uma troca de telefone e pumba: um encontro.
A Chloe leu "A invenção da solidão" em 1 dia e meio só pra poder chegar afiada pro choppinho, com assunto de sobra. Nem tocaram no livro. O assunto caiu no trabalho, nas festas, nos amigos, no cinema, no teatro e terminou onde tinha que terminar: num beijo sem precisar dizer nada.
- A gente se vê Théo.
- Claro. A gente se vê, Chloe.
A menina virou de costas, abriu as asas e saiu voando.
E o Théo ficou com aquela cara embasbacada de quem passou a noite conversando com um ser alado viciado em literatura, teatro e que gosta de ir só ao cinema.
- Pera aí, onde você vai?
- Voar.
- Ah, claro. Voar, como não pensei nisso antes. Como assim você vai voar?
- Théo, eu sempre preciso voar. Mas eu sempre preciso voltar.
Sumiu atrás das árvores, depois atrás das nuvens, depois atrás do horizonte.
Théo sentou no meio fio. Se deu conta de que o céu era mesmo o único lugar onde ainda não tinha procurado.
Pois é, aquilo destoava de toda e qualquer normalidade.
23 Comments:
É, né, às vezes a gente procura tanto que já não sabe mais onde olhar. E aparece assim, do nada!
Bonito esse post
9:10 AM
hehehe
a normalidade é chata. Legal é o inesperado, a abertura de olhar onde antes não tínhamos ido...
9:31 AM
Que post lindo!!!
10:47 AM
Tá assistindo muita novela da RECORD! EHEHEHEHEHH
4:02 PM
Erica, pois é. As vezes é só olhar pra cima :0)
Beibe a normalidade é casual. Inesperado é perceber o que há de mágico na casualidade.
Obrigado Cicinha :0)
Pô virgínia, não me sacaneia. Escrevo uma parábola sobre anjos, casualidade, encontros... e você me bota na frente da TV vendo novela da Record? Rsrsrsrs. E que novela bizarra, diz aí?
4:08 PM
Adorei o texto!
Quisera eu de ser como um anjo, poder voar e depois voltar!
Beijo
(urb)Anna
4:40 PM
hm, rânei, que bonito isso.
Vamos marcar aquele tradicional japinha? Tem que ser de domingo a quarta.
5:27 PM
Show de bola. Muito bem escrito mesmo.
Só uma duvida. Se o Theo é igual a mim e a você fica uma duivida: ele tem cabelo ruim ou é careca?
6:04 PM
Este comentário foi removido pelo autor.
6:04 PM
Queria ser a Chloe....
bjs
7:05 PM
Eu também...
11:06 PM
bonito demais o texto.
:)
6:54 AM
Anna, aí vc podia dar uma saída de Curitiba pra um rolê aqui em sampa :0)
Tks Rânei. Essa semana tá casca, mas semana que vem rola. Miss u.
MH, claro que careca. É dos carecas que elas gostam mais. Puta mentira, mas preciso valorizar meu passe que nem o Bruce Willis.
Re e Anna, queriam ser Chloe para ter Théo ou ter asas?
Lih, obrigado. Você é nova por aqui né? Ou eu tô ruim da cabeça? Bom, o que importa é que está aqui ;0)
12:13 PM
Acho que você está apaixonado... que lindo!
10:37 PM
Putz, Gasta... Já pensou? Eu voava um pouquinho, passava um dia aí em Sampa, te conhecia pessoalmente, tomava um chopp com vc. Dava mais uma voadinha e voltava pra Curita.
Se bem que eu não sei se é permitido voar depois de beber...
Beijo
(urb)Anna
8:31 AM
Caro Gastón, não quis te esculhambar não! Mas esses temas estão muito em voga na rede do bispo... não aguentei e mandei a piada!
Novelinha ruim demais! Hoje estou desviciada de novelas (aleluia irmão!!), mas estou compesando a abstinência com os reality shows... e viva a sky! ;)
9:54 AM
Amanda, são reflexões. Apenas reflexões :0)
Anna, com certeza, bebida e asas não combinam rsrsrs.
Virgínia, pode esculhambar a vontade :0) Essa novela eh o Heroes de pobre. Tb sou um homem liberto de novelas. Amém.
10:03 AM
Amei! Está sempre onde a gente não procura.
1:31 PM
Oie
meu comentário é sobre um post seu bem antigo, falando sobre a caixa de chocolate da garoto. Eu adorava um que o papel era meio creme amarelado (algo assim) e todos de fruta, sempre procuro e nunca encontro, quase não gosto de nenhum da caixa nova. Vc lembra desse??? nem a garoto lembra...
Eu amei o textoooo
bjos
10:33 PM
Ah, a companhia perfeita! Precisa "voar e voltar"!Um encontro de beleza e liberdade - bem incomum, de fato! Gostei muitodo texto!
11:25 AM
Ih, me identifiquei muito com este texto.
Resolvi dar uma bisbilhotada lá também, e... "voilà!"
=)
10:28 AM
Adorei Gastón...
Só que fiquei com uma invejinha dela...queria voar tanto também...!
Beijos!
vivi
4:05 PM
Putz, se blog tivesse estrelinha como no flickr esse post levava uma só por citar Paul Auster. Amém.
10:25 AM
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