domingo, março 02, 2008

Céu de brigadeiro.

Tem um cara chamado Théo. Na verdade é Theodoro mas, por motivos plausíveis, ele gostava mais de Théo. Acho chato falar que ele era um cara comum. Ninguém é comum. Todo mundo faz uma coisa legal, tem um dom especial ou se destaca em alguma coisa. Aliás, olhando por esse prisma, o Théo era um cara bem incomum. Mas o que eu queria dizer é que o Théo é um cara normal. Salvo algumas deficiências que a vida apronta, as pessoas tem 2 pernas, 2 braços, tronco, cabeça, duas orelhas, um nariz... o Théo é assim: igual a mim, igual a você.

Como todo cara normal que se preze, ele também, vira e mexe, aparecia pendurado atrás de algum rabo de saia. Era meio tímido, mas sempre dava seu jeito pra conquistar alguém. Inventava cada traquitana pra seduzir as mulheres, que no fim das contas acabava levando o primeiro prêmio no quesito originalidade. Sempre tentou achar alguém legal. Mas não dava muita sorte. Ficava sempre jogando na loteria pra ver se esse negócio de azar no amor, sorte no jogo dava certo.

Até o dia em que o Théo encontrou a Chloe. Foi tudo bem casual. E quanta fortuna naquele encontro. Ela tava descendo no elevador do prédio onde morava um amigo dele. Cheio de livros nas mãos, o Théo acabou topando a menina que começou a dissertar sobre o exemplar mais acima da pilha, um amarelinho do Paul Auster. Isso rendeu uma conversa no saguão do prédio, um livro emprestado, uma troca de telefone e pumba: um encontro.

A Chloe leu "A invenção da solidão" em 1 dia e meio só pra poder chegar afiada pro choppinho, com assunto de sobra. Nem tocaram no livro. O assunto caiu no trabalho, nas festas, nos amigos, no cinema, no teatro e terminou onde tinha que terminar: num beijo sem precisar dizer nada.

- A gente se vê Théo.
- Claro. A gente se vê, Chloe.

A menina virou de costas, abriu as asas e saiu voando.

E o Théo ficou com aquela cara embasbacada de quem passou a noite conversando com um ser alado viciado em literatura, teatro e que gosta de ir só ao cinema.

- Pera aí, onde você vai?
- Voar.
- Ah, claro. Voar, como não pensei nisso antes. Como assim você vai voar?
- Théo, eu sempre preciso voar. Mas eu sempre preciso voltar.

Sumiu atrás das árvores, depois atrás das nuvens, depois atrás do horizonte.

Théo sentou no meio fio. Se deu conta de que o céu era mesmo o único lugar onde ainda não tinha procurado.

Pois é, aquilo destoava de toda e qualquer normalidade.

23 Comments:

Anonymous Anônimo said...

É, né, às vezes a gente procura tanto que já não sabe mais onde olhar. E aparece assim, do nada!
Bonito esse post

9:10 AM

 
Blogger MH said...

hehehe

a normalidade é chata. Legal é o inesperado, a abertura de olhar onde antes não tínhamos ido...

9:31 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Que post lindo!!!

10:47 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Tá assistindo muita novela da RECORD! EHEHEHEHEHH

4:02 PM

 
Blogger Gastón said...

Erica, pois é. As vezes é só olhar pra cima :0)

Beibe a normalidade é casual. Inesperado é perceber o que há de mágico na casualidade.

Obrigado Cicinha :0)

Pô virgínia, não me sacaneia. Escrevo uma parábola sobre anjos, casualidade, encontros... e você me bota na frente da TV vendo novela da Record? Rsrsrsrs. E que novela bizarra, diz aí?

4:08 PM

 
Blogger UrbAnna said...

Adorei o texto!
Quisera eu de ser como um anjo, poder voar e depois voltar!
Beijo
(urb)Anna

4:40 PM

 
Blogger mc said...

hm, rânei, que bonito isso.

Vamos marcar aquele tradicional japinha? Tem que ser de domingo a quarta.

5:27 PM

 
Blogger MH said...

Show de bola. Muito bem escrito mesmo.
Só uma duvida. Se o Theo é igual a mim e a você fica uma duivida: ele tem cabelo ruim ou é careca?

6:04 PM

 
Blogger MH said...

Este comentário foi removido pelo autor.

6:04 PM

 
Blogger Renatinha said...

Queria ser a Chloe....
bjs

7:05 PM

 
Blogger ANNA said...

Eu também...

11:06 PM

 
Blogger Lilly said...

bonito demais o texto.
:)

6:54 AM

 
Blogger Gastón said...

Anna, aí vc podia dar uma saída de Curitiba pra um rolê aqui em sampa :0)

Tks Rânei. Essa semana tá casca, mas semana que vem rola. Miss u.

MH, claro que careca. É dos carecas que elas gostam mais. Puta mentira, mas preciso valorizar meu passe que nem o Bruce Willis.

Re e Anna, queriam ser Chloe para ter Théo ou ter asas?

Lih, obrigado. Você é nova por aqui né? Ou eu tô ruim da cabeça? Bom, o que importa é que está aqui ;0)

12:13 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Acho que você está apaixonado... que lindo!

10:37 PM

 
Blogger UrbAnna said...

Putz, Gasta... Já pensou? Eu voava um pouquinho, passava um dia aí em Sampa, te conhecia pessoalmente, tomava um chopp com vc. Dava mais uma voadinha e voltava pra Curita.
Se bem que eu não sei se é permitido voar depois de beber...

Beijo
(urb)Anna

8:31 AM

 
Blogger Unknown said...

Caro Gastón, não quis te esculhambar não! Mas esses temas estão muito em voga na rede do bispo... não aguentei e mandei a piada!
Novelinha ruim demais! Hoje estou desviciada de novelas (aleluia irmão!!), mas estou compesando a abstinência com os reality shows... e viva a sky! ;)

9:54 AM

 
Blogger Gastón said...

Amanda, são reflexões. Apenas reflexões :0)

Anna, com certeza, bebida e asas não combinam rsrsrs.

Virgínia, pode esculhambar a vontade :0) Essa novela eh o Heroes de pobre. Tb sou um homem liberto de novelas. Amém.

10:03 AM

 
Blogger Unknown said...

Amei! Está sempre onde a gente não procura.

1:31 PM

 
Blogger Bia said...

Oie
meu comentário é sobre um post seu bem antigo, falando sobre a caixa de chocolate da garoto. Eu adorava um que o papel era meio creme amarelado (algo assim) e todos de fruta, sempre procuro e nunca encontro, quase não gosto de nenhum da caixa nova. Vc lembra desse??? nem a garoto lembra...
Eu amei o textoooo
bjos

10:33 PM

 
Blogger A que está escrita. said...

Ah, a companhia perfeita! Precisa "voar e voltar"!Um encontro de beleza e liberdade - bem incomum, de fato! Gostei muitodo texto!

11:25 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Ih, me identifiquei muito com este texto.
Resolvi dar uma bisbilhotada lá também, e... "voilà!"
=)

10:28 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Adorei Gastón...
Só que fiquei com uma invejinha dela...queria voar tanto também...!
Beijos!
vivi

4:05 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Putz, se blog tivesse estrelinha como no flickr esse post levava uma só por citar Paul Auster. Amém.

10:25 AM

 

Postar um comentário

<< Home

 
web site hit counter