Tem sopa? Eca.
Eu odeio sopa.
- Sopa, tá louca? O que você fez de tão ruim pra alguém te dar sopa?
- Sopinha Gasta, um caldinho, uma canjinha...
- ...
- Gasta?
- ...
- Que cara é essa Gasta?
- ...
Gasta, fala comigo? Gente, o Gasta tá verde.
Vamos fazer assim ó, ninguém tá olhando: vira a cara meio pra esquerda, meio pra baixo. Fecha o olho direito bem apertado. Agora repuxa a boca em direção ao queixo e bota a língua pra fora. É isso. Pô, ficou boa a sua heim, você também odeia sopa?
- Hum, tá horrível né? Eu sei, mas eu não tenho culpa, eu juro. Isso é coisa da mamãe. Titio Gastón é um cara bacana, vai te levar no MacDonald's quando você crescer. Vai, abre a boquinha pra essa gororobinha. Quanto mais rápido você comer, mais rápido a gente manda ver naquele danoninho, o que você acha?
Eles comiam tudinho. Criança sabe.
Mas voltemos ao trauma.
Gastonzinho, um molequinho magrelinho de dar dó, sentia a aproximação do inverno e já começava a ter arrepio na espinha. O bichinho tremia, coitado. Ele sabia que mais dia, menos dia, sua mãe ia fazer aquela gororoba.
Ele ficava ali, tenso, só pescoçando o que ia ter pro jantar. Torcendo pra não escutar nenhuma panela de pressão na cozinha, algo que àquela hora do dia só poderia significar uma coisa: sopa.
E meus pais adoravam sopa. No mínimo uma vez por semana eu passava por uma interminável sessão de tortura na frente do prato.
- Ah não mãe, sopa não. De novo não. Mil vezes não. Nãããããoooo.
Caldo de carne, de legumes, caldo de feijão com macarrão de conchinha...
E eu não podia sair da mesa enquanto não acabasse. Eu demorava uma eternidade pra comer aquilo. Conclusão: eu sempre tomava sopa fria.
Algumas dava pra engolir mais fácil, outras me faziam sofrer. Mas tem uma em especial que não posso nem imaginar. Se aquilo for a última coisa que sobrar nesse mundo pra comer eu morro de fome. Feliz. A campeã do estômago revirado. O prato que eu mais abomino em toda face da terra: a sopa de caldo de feijão com legumes. Se tiver aquele arrozinho junto então...
Essa era dia de desespero.
O tempo passa, a gente cresce e o paladar muda. Confesso que surgiram algumas variedades que eu passei a encarar. Veja bem, encarar. Sopa de cebola (especialmente se for dentro do pão italiano), creme de palmito e creme de champignon. Tenho até arriscado um caldinho de feijão de boteco.
- Mas é tão bom tomar uma sopinha nesse inverno, esquenta.
Bom, eu prefiro uma meia de lã, um pijama bem grosso e uns três edredons.
16 Comments:
Criança sofre né? Ainda bem que aqui em casa somos fãs de sopinha.Principalmente de feijão com legumes.
Desgraça de um, alegria de outro.
bj
10:35 PM
Sorte sua q vc não é filho de portugueses, pq aqui em casa tem sopa toda noite. É sagrado!
Credo...Bj, Lulinha
11:13 PM
Nem desconfiava que neste inverno a gente não vai poder trocar os temakis por 1 sopinha quente...
11:45 PM
Mafalda que o diga.
9:47 AM
e se o frio for muito, uma dose de whiskey e não se fala mais nisso!!!
até curto uma sopa (sou seletiva, nada de canja pelamor!!!), mas respeito as aversões alheias!
10:16 AM
Aiii, entendo totalmente sua aversão a sopa! Parece comida de doente! rsrsrs
Beijão!
Dani
10:36 AM
Rânei, você é esquisitinho né? Pode esquecer essas sopas que vc gosta, pq isso não é sopa, é CREME. A Cynthia não ia aprovar...
Eu sou chegada numa sopa, mas odeio de feijão... e prefiro tipo papinha, sem pedaços de legumes, carnes ou afins.
10:37 AM
Vou jogar no ventilador: atenção hordas de leitores do Vida Perra: o Gastón Trujillo Muñoz d'Esperanza y Cortazár TOMOU SOPA DE CEBOLA NA MINHA CASA! E nem fez cara feia porque eu fiquei olhando o tempo todo.
Pronto. Falei.
(O que a gente não faz pelos amigos, né?)
11:30 AM
Fabi, vc não faz isso com o pessoal aí da sua casa... não é possível! Jura que todo mundo gosta?
Lulinha, todo dia? Você disse, TODO DIA? Ah, eu tinha fugido de casa com 13 anos.
Pois é Aninha, trocar um temaki por sopa. Se um dia eu te pedir isso me interna.
Catarina, Mafalda é minha heroína.
É isso aí beibe. Um 12 anos, Cowboy, duplo.
Obrigado Dani. Até que henfim alguém que me entende nesse blog.
Rânei, eu não tomo essas sopas de livre e espontânea vontade. E Sopa de cebola não é creme. Pode ser, mas nem sempre é.
Ana, tomei mesmo. E tava boa. Eu amo cebola. Até líquida. E você, dear, é uma cozinheira espetacular. Mas se fosse pra caldo de feijão com legumes, não tinha amizaed no mundo que fizesse tomar. Eu levava lanchinho ;0)
11:39 AM
Sou da trupe da Luciana, filha de português, li como se lesse uma heresia sua anit-ode à sopa de feijão com legumes... É "O" clássico da minha família, tem gosto de pai, de infância, de... inverno...
Acabei de chegar do mercado com os ingredientes da sopas da semana: hoje vamos de sopa de abóbora, de longe a favorita.... Amanhã de mandioquinha, depois milho e depois de ervilha.
....
Beijos
11:50 AM
Ô garçom, tem um comentário na minha sopa.(desculpe, mas tive que colocar esse trocadilho gastronômico pra fora)
3:31 PM
Lá em casa também tem sopa todos os dias...E para não haver reclamações, para agradar gregos e troianos, sempre há duas opções de sabor.
A sua relação com pudim da sua mãe é a relação da minha família com sopa.
Eu sou chata e só tomo creme...
MC, a Cynthia aprovaria creme sim. Pelo menos a minha Cynthia libera. Claro que com um monte se porém/sem/pouco (creme de leite, batata...)
4:01 PM
Adoro sopa! Pô, caldinho de feijão de boteco é bom demais...
5:04 PM
Então...
Eu também era da turma que odiava sopa quando pequena. Sopa e outras coisas leguminosas que hoje eu encaro...tal qual a sopa.
Pelo menos, Gastón, ela não engorda muito! Pense nisso...
A Cinthia não te recomendou nenhum caldinho, não!?
Beijos,
5:47 PM
LOUCA POR SOPA.
Só não encaro as frias: sopa pra mim tem de ser fumegante.
beijo
6:43 PM
tô contigo e não abro.Movimento "Por um inverno sem sopa"..sopa me lembra doença e tb a miséria do meu país.Moro do lado de uma igreja e sempre tem fila do sopão pros mendigos de Copacabana, que não são poucos.
12:30 PM
Postar um comentário
<< Home