terça-feira, novembro 28, 2006

Sobre nossas cabeças.

Morar em prédio de apartamentos depois de 30 anos vivendo na mesma casa onde nasceu traz muitas novidades.

Fora o karaokê japonês matutino da minha vizinha da esquerda e a bomba do tanque de carpas igualmente japonês do meu vizinho da direita, a gente mal percebia que eles estavam ali. É, digamos que esses dois barulhos já eram mais que suficientes.

Mas morando num ap, a gente acaba estabelecendo um vínculo auditivo com o morador do andar de cima. Incrível como os apartamentos que estão no mesmo andar ou abaixo de mim, não emitem um ruído sequer. Eles podem jogar vaso na parede, se esmurrar, gritar, bater panela, dançar a xula que eu não ouço nada. Mas o vizinho de cima mal pode espirrar.

Pelo que eu pude perceber, quem mora no 144B é um casal sem filhos. Isso porque ouço conversas entre uma voz fina e uma voz grossa. Ouço como se fosse a professora do Charlie Brown falando, mas ouço. Não é sempre. Escuto as vozes a noite quando o silêncio da rua deixa tudo mais evidente.

O desgraçado é São Paulino roxo. Preferências futebolísticas à parte, quando a droga do time dele ganha, o infeliz não se contenta em comemorar. Ele pula, esmurra a parede, sai na janela e grita : caralho, porraaaaaaaaaaaaa! As vezes eu acordo e acho que to morando no Cingapura. Em compensação quando o São Paulo toma um gol ele sai andando de um lado pro outro. Não preciso nem ligar a TV.

Por falar em TV, eles assitem no quarto antes de dormir. E são meio surdos...

Complicado é que tudo isso faz a intimidade das pessoas descer pelo ralo. Literalmente. Você sabe quando cara ta cagando, quando ele tá fazendo um xixizinho, quando alguém tá tomando banho... mas o que me irrita mesmo é que um deles faz questão de dar três batidinhas com a escova na pia depois de escovar os dentes. Deve ser o cara porque ele desce a porrada na coitada da escova.

Todo dia pela manhã escuto alguém no chuveiro e já sei que o radio relógio no chão do meu quarto ta marcando seis horas. Ótimo, ainda tenho mais uma hora e vinte minutos de sono. Depois vem o som das gavetas e das portas dos armários. Resumindo, se eles perderem a hora eu também perco.

Mas tem uma coisa que tem me intrigado bastante: eu acho que eles não fazem sexo. Quer coisa mais barulhenta que alguém dando umazinha bem em cima da sua cabeça? Ou então eles são tântricos e ficam horas atarrachados numa posição esquisita, com as mãozinhas dadas fazendo movimentos circulares enquanto respiram prana. Ou será que é um casamento de fachada? O cara é eunuco? Não é possível, até um papai-mamãe faz barulho.

De repente o cara chegou em casa outro dia e falou pra mulher:

- Eduarda Cristina, nós não podemos mais ficar juntos.
- Mas porque Roberto Augusto?
- Porque que nós somos irmãos!!!

Quem sabe né, novela mexicana tá aí pra mostrar as coisas como elas são.

Bom, participando tanto assim da vida alheia por livre e espontânea vizinhança, fico pensando o que o pessoal do 124B pensa a meu respeito.

Será que eles...

É, acho melhor nem pensar.

17 Comments:

Blogger Michel said...

A parte da descarga e a pior. Ainda mais se e na hora do jantar. Belezura.

9:05 PM

 
Blogger MH said...

viu... o que é a xula? e como se dança isso?

ah, os vizinhos! Nessas horas bem que eu discordo de quem diz que nenhum homem é uma ilha. Eu bem que queria... Só que na casa dos meus pais é pior, ouvimos as conversas, brigas, cães, canários, assobios (por que vc acha que minha irmã odeia assobios???)...

9:45 PM

 
Blogger Tati said...

ê laiá.... morar em prédio é isso mesmo.... os meus vizinhos também não transam, mas fico pensando se ELES ouvem o movimento do casal jeca, aqui em baixo..... Ou se eles tmabém falam isso "Ah, o casal aqui de baixo deve estar em crise, nunca ouço barulho de nhec nhec..."
bueno...
beijos

9:48 PM

 
Blogger Cláudia said...

Meus vizinhos do oitavo (dois andares acima do meu), quando ainda eram um feliz casal com apenas uma filha adolescente e não um feliz casal com uma filha adolescente e trigêmeas de quase dois anos de idade, adoravam brincar na banheira de... BICHO-PAPÃO.
Era um tal de escutar o cara, já com umas duas ou três garrafas de vinho na cara, dizendo, entre os plosh plosh da água: O BICHO-PAPÃO VAI TE PEGAAAAARRRRRRR!

11:02 PM

 
Blogger mc said...

Aaaai isso é ruim mesmo. Na minha casa ouço passos do salto da mulher do 33. Minha irmã diz que sente a fumaça do cigarro do mala 11. Se vc for pensar, morar em prédio é muito esquisito.....

PS - ODEIO assobio mesmo.

8:31 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Essa vida de vouyer aditivo é assim mesmo: ou você se contenta, ou passa a não cotonetar mais os ouvidos na esperança de ouvir cada vez menos.

O Gastón me conhece porque a gente já foi vizinho de trabalho. Ele numa mesa e eu na outra. E aproveito aqui para me desculpar pelo barulho que eu fazia porque, no geral, falo um pouco demais.

Mas veja pelo lado bom: o são paulino ficava na outra mesa.

Voltando ao assunto, tenho poucas histórias para contar com vizinhas(os). O prédio que eu moro é de 1 quarto e isso significa um bando de solteiro dividido por jaulas de concreto, mas todo mundo é muito discreto, estilo animal de Zoo.

O apartamento de cima, por exemplo, copula. E faz de novo. E refaz. Eu ouço tudo e em dias que não tem grunhidos eu já sinto até falta.

Sério. Eu não sei quem eles são. Se é uma mulher que mora e o namorado vem visitar, ou se é um cara que mora e a menina vai pra jaula. Fantasiosamente falando, resolvi nomear a primeira opção como a oficial e sempre que entro no elevador com alguma mulher vejo o andar que ela vai apertar.

Décimo terceiro, né? Então é você...

8:39 AM

 
Blogger Gastón said...

Michel, por isso que eu almoço na sala e com a tv ligada.

Mh, a xula é uma dança típica folclórica do Rio Grande do Sul. Quando eu era pequeno, na minha escola, não sei porque raios ensinaram a gente a dançar isso. E nos meninos, vestidos de gaucho, ficávamos pulando que nem uns retardados de um aldo pro outro, meio que batendo esporas no chão. Faz um puta barulho.

Tati, eles vão ver quando a Jequinha desembarcar...

Clau, bicho papão? isso dá anos e mais anos de terapia minha amiga.

Rânei, o barulho de salto da mulher até que vai, mas cheiro de cigarro... putz, isso é foda. E o pior é que o cara tá na casa dele, vai pedir pra ele não fumar...

Rods, seu prédio tem pessoas discretas e religiosas. É isso mesmo meu bom rapaz. E digo mais: o mundo é dividido entre pessoas que comemoram e pessoas que não comemoram. No caso sua vizinha do andar de cima corre pro abraço, joga a camisa pra torcida e dá peixinho na quadra.

8:44 AM

 
Blogger Rubi said...

Gastón

Parece que no seu prédio as paredes são de papel...risos...Aqui deste lado eu devo morar no edifício mais bem construído de Londres, pois nunca ouvi um zum zum de apartamento nenhum...Já nos corredores...risos...podia escrever um livro

Abraço

http://penseiquesabia.blogspot.com/

10:52 AM

 
Blogger Renatinha said...

Gastón,
Amei seu post. Como é difícil esta falta de privacidade.
No meu prédio, por exemplo, sou conhecida como a bruxa do 71, tenho certeza. Existe um livrinho de reclamações na portaria que sempre deixo os meus comentários, pois não vou ligar para o síndico e nem fazer barraco. Mas dá vontade! A minha vizinha de porta tem uma criança que não sabe falar, só berrar às 6 da manhã no hall do elevador e o menino já deve ter uns 5 anos, e o pior, eu só preciso acordar às 8h30. Bituca de cigarro também no hall do elevador, cheiro de lixo perto do meu carro, cartas que colocam embaixo da minha porta e meus cachorros comem, tudo isso vai para o livrinho. O Síndico me vê e fala: - Vc devia aparecer na reunião de condomínio. Pra que? Tenho o livro amigo, reclamo e alguém toma providência. Se eu for nesta reunião vou ser linchada. Principalmente por brigar com velhinhas e crianças que odeiam meus lindos cachorros. Mas quando reclamam dos meus cães com educação, mando flores com uma cartinha de desculpas e ainda faço café toda noite para os porteiros. No fundo sou boa vizinha. ;)

11:39 AM

 
Blogger Gastón said...

Rubina, o hall do meu elevador é terra de ninguém. Ali sim a gente ouve tudinho.

Re, ainda be que o povo lá do meu prédio não apronta. E só tem casal recém casado naquele treco. Alguns com filho pequeno. Minha vizinha tem cachorro e eu me divirto porque chego de madrugada e ele sempre dá 3 latidinhos quando eu saio do elevador. Nunca 1 ou 2, sempre os mesmos 3 latidos.

12:53 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Opa! então vc é o cara do 134b??

4:25 PM

 
Blogger Gastón said...

hahahahahaha, anônimo, seja quem for, mandou muito bem no comentário.

4:29 PM

 
Blogger Tati said...

Putz, Claudia!!! Olha, o pai bebado fazer teatrinho de bicho papão com a filha vá lá.... Eu tive um casal de amigos (que o gastón conheceu muuuuito bem) que fazia esse MESMO teatrinho na hora H.... Era engraçadíssimo, por que eles iam tomar banho juntos e eu e meu ex namorado, que era primo do tal rapaz, ficávamos de fora escutando: "EU VOU TE PEGAR!!!!!!" e ela berrava "NÃÃÃOOO"...... Grave.... muito grave......
beijos

7:25 PM

 
Blogger Tati said...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

7:25 PM

 
Blogger Cláudia said...

Não Tati, vc não entendeu...
não era brincando com a filha não, era com a mulher dele, na banheira. De chorar de rir.
É que agora, com trigemeas em casa, não deve mais sobrar tempo pra tanta elaboração.

9:48 PM

 
Blogger Tati said...

ah, agora sim.... será que seu vizinho não é o primo do meu ex, não? hahaha
beijo

7:40 AM

 
Blogger Gastón said...

Nossa Tati, eu não lembrava desse detalhe sórdido... hahahaha, surreal.

1:22 PM

 

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