quarta-feira, junho 13, 2007

Roleta Russa

A vida é como uma caixa de bombons. Você nunca sabe o que vai encontrar.

Forest Gump, lembra?

E na casa onde eu morava, todo sábado, depois da pizza de muzzarela do jantar, havia uma caixinha amarela de bombons no papel de sobremesa.

Sábado era o dia do meu pai fazer as compras semanais. Na lista dele nunca podia faltar a tal da caixa.

Família dos formigas, deveríamos nos chamar. Nunca vi gente pra gostar de um doce que nem aquela. Nunca vi gente pra fazer tamanha organização na hora da sobremesa. E tinha que ser, se não dava briga.

Esperávamos todo mundo terminar de comer. Uma das minhas irmãs era mais lerda. Já notou que toda família tem alguém lerdo pra comer? Na verdade ela era a normal. O restante do povo é que mal mastiga o que tem no prato.

Sentados na mesa da copa, tal qual a távola redonda, a espera do ritual dos chocolates.

Minha mãe presidia a sessão. Abria a caixa e pegava um bombom. Passava pra mim que pegava outro. E seguia para meu pai, minha irmã do meio e minha irmã mais velha, sucessivamente. Cada um tirava um doce. E a caixinha circulava de colo em colo até que todos os bombons tivessem terminado.

Distribuídos igualmente. Com chances relativamente iguais para todos, já que sempre vem mais de um do mesmo sabor. Pelo menos não me lembro de nenhum problema quanto ao fato de começar sempre na minha mãe. Talvez porque eu fosse sempre o segundo e não estivesse nem aí.

Sempre naquela tensão de planejar o doce que você queria para a próxima rodada e torcer pra ninguém ter a mesma idéia antes da caixinha retornar à suas mãos.

Se não me falha a memória, dava uns sete ou oito pra cada um dos cinco formigões.

O engraçado é que, em cada família, existe sempre dois sabores de bombons que ficam pro final. Aqueles que ninguém gosta. Esses, geralmente, evitavam a discórdia das quantidades lá em casa. Se alguém tinha um a mais que o outro, certamente era aquela porcaria daquele chocolate branco esquisito que ninguém gostava.

Trocando experiências com outras pessoas, cada um relata o sabor preterido das caixinhas da sua casa. Na maioria dos casos, os de fruta eram os renegados. Mas na minha família não. Pra minha mais pura felicidade, as outras formigas de gosto duvidoso se estapeavam pelos de ameixa, figo e damasco. Eu, criança, sempre tinha garantido os meus de chocolate ao leite, serenata de amor e meio amargo. Entrava nessa luta das frutas secas só pelo de banana ou passas.

Deveria haver um sistema de trocas. Uma organização entre famílias para intercâmbio de sabores detestados.

Aliás, porque será que os piores bombons sempre vêm em maior quantidade?

As caixas mudaram seus sabores ao longo dos anos. Minha irmãs casaram, tiveram filhos e eu saí de casa. Essa roleta-russa de bombom não existe mais. Mas uma coisa nunca vai mudar: se você der uma passadinha na casa dos meus pais lá pela quarta ou quinta-feira, vai encontrar a tal caixinha com meia dúzia de bombons que ninguém gosta. Atualmente, os abomináveis são os de Marshmellow e os de Rum.

E isso é tudo o que eu tenho a dizer sobre caixas de bombom.

22 Comments:

Blogger Roberta said...

Há um engano. Os bombons preteridos -- que vêm em maior quantidade -- não são os piores. Os outros são considerados melhores justamente por serem mais raros. E não ver dizer q não tem nada a ver porque eu não vou acreditar.
É o gostinho de conquistar aquele único alpino que vem na caixa da nestlè. :)

11:47 PM

 
Blogger San said...

Estou com a flamejante aí de cima...na eterna luta pelos bons chocolates, mais sucesso tem aquele que consegue os mais raros.

Aqui em casa vale, inclusive, a tática sórdida de, distraidamente, retirar mais de um exemplar da caixa quando ninguém ( na verdade, todo mundo ) está olhando.

Aqui, mais do que nas caixas de chocolate, o derramamento de sangue se dá na hora de repartir sobremesas produzidas em casa, como bolos, pudins e afiliados. O nível de complexidade da divisão inclui porções maiores para aqueles que pegaram pedaços de ponta ( onde comumente há mais massa que recheio ) e brigas homéricas ( e milimétricas ) pelo pedacinho que fica no centro do doce.

2:54 AM

 
Blogger Unknown said...

Lendo o post me senti super piegas, hummm q saudade dessas rotinas com a família...
Esses dias ganhei um pacote de minis toblerones, branco, ao leite e meio amargo...o branco e o ao leite não ficaram nenhum resto mortal pra contar a sua existência, agora meio amargo tem um monte, ninguém quer...até ofereci p/ um cara do trabalho q come até pedra e nem ele quis...rs
Gastón acho q vou mandar pra vc viu...risos

bjos,
p.s: hei os de banana da cx amarela são meus, sempre foram os q ficarm de lado!!!

9:47 AM

 
Blogger Fabi said...

Aqui em casa é na base do salve-se quem puder. Coloco a caixa na mesa da sala , tiro os meus preferidos(lógico) e aviso a tropa: -Tem bombom na mesa. Saio de perto o mais rápido possivel. As três formigas pequenas devoram todos, não sobra nenhum, ninguem é renegado aqui.

Ranking da ultima páscoa:
18 ovos médios
8 caixas de bombom
Devorados em 1 semana

E nenhuma dor de barriga. São formigas resistentes, rs

10:37 AM

 
Blogger Tati said...

em casa eram sempre os de fruta que ficavam pro final.... Eu, a egoísta e mala da família, (melhorei com o tempo) corria para pegar o Nugat, o que tinha uma boca na frente (ao leite) e o serenata de amor. Furtava também o crocante, ou seja, rapava os melhores...
Os de fruta ficavam lá, sozinho, renegados...
Mas logo a crise de abstinência de açucar batia e eles estavam ali, só na espera...
Mesmo assim sofriam, pois eram impiedosamente mutilados. Eu dentava a cobertura e jugava fora o recheio... Adeus banana, figo e damasco... Beleza interior uma ova, o bom mesmo é a cobertura...

11:05 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Ameixa, EEECAAA. Eu e meus irmãos dizíamos jocosamente "Amêcha". Uma vez levamos para um amigo nosso, que gostava desse aí - amigo esse que anos mais tarde foi internado em uma clínica psicológica, vejam bem que não estou partindo para conclusões, é tudo fruto de sua mente poluída - nada menos que SETE bombons de ameixa que tinham vindo em uma única caixa.

Imagino o sadismo do sujeito na fábrica: "Quem comprar essa caixa aqui se ferrou, HA HA HA HA HA HA". Deviam pagar melhor os sujeitos.

Desculpa, acabei fazendo outro post...

11:14 AM

 
Blogger Gastón said...

Zippo, é mesmo, é? Mas eu não entendo, porque eles não colocam mais desses melhores? Canguice? Espírito de porco?

San, lá em casaa coisa fervia com os bombons. Os bolos e sobremesas não eram motivo de conflito. Só quando chegava no finalzinho e sempre alguém vinha com aquele papo de "pô, nem comi".

Cris, eu daria conta dos seu Toblerone meio-amargo com todo o prazer. Se não estivesse de dieta. Toblerone é meu chocolate favorito. E eu adoro meio amargo. Mas afaste isso de mim... chocolate é coisa do capeta.

Ah fabi, quando aparece a criançada, não tem método. Meus sobrinhos fazem a limpa na caixa antes da gente chegar perto. Agora, que páscoa heim? 18 ovos...

Tati, errata: o Nougat era o da embalagem azul e dourada. É de chocolate ao leite com castanha de caju (na receita, não em pedaços. O Com a boquinha na frente é o Alô Douçura, esse sim de chocolate ao leite e papel vermelhinho. Hoje em dia mudou a cor da embalagem pra um roxo esquisito.Sei tudo de bombom garoto.

Lucrécia, eu achava terrível o de figo. Putz, esse sim era nojento. Eca.

12:09 PM

 
Blogger MH said...

Hummmm, bombom...
Em casa não tinha disso não. Meu pai era "contra" doces em excesso. Mas lembro que, de vez em quando (muuuuuito raro), meu pai chegava de alguma viagem com uma caixa de alpino. Daqueles que ainda tinham a embalagem de papel com o cestinho de alumínio, lembra?
E em certas ocasiões de sorte, ele dividia uns baci com a gente... hummmm
Mas caixa de bombom eu comprava pra mim e guardava escondido, ia comendo aos poucos e jogava fora os de fruta. todos. eca.

12:12 PM

 
Blogger Cláudia said...

Gastón
minha familia é do ES (eu idem) e todas as férias sempre incluíram uma visita à lojinha da fábrica de bombons Garoto...
Imagine poder comprar caixas apenas com o sabor preferido. Bem legal, mas mesmo assim comprávamos as sortidas também, senão não teria graça.
E toda vez que vem alguém de Vitória pra cá, vem com uma caixinha de bombom Garoto na mala.
Eu nem gosto muito do chocolate da Garoto, mas é a cara da minha infância.
beijo

2:30 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Adoro os de marshmwllow e os de rum! fala para seus pais que posso fazer o sacrifício de comer estes na casa deles! rsrsrs
Beijos!

3:17 PM

 
Blogger Nana said...

Rá! Lá em casa rolava um ritual parecido. Mas tinha que tirar zerinho-um pra ver quem começava escolhendo.
Eu adoro o Opereta, que você chamou de branco esquisito. E não como nem morta o de banana!

5:19 PM

 
Anonymous Anônimo said...

era você que comia o Bombom Caribe?

7:56 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Hummmmmmm...
Seus posts só aguçam meu apetite!
E olha que nem a bronca semana passada deu conta de concertar isso! rs
Mas ok... 1 dia eu me inspiro em vc e chego lá! ;)
Bjos e super saudades

8:59 PM

 
Blogger Lala said...

Na minha casa sobravam os de figo. Lembra que tinha de FIIIGOO? Pois é. Os serenata de amor eram disputados no tapa, os Opereta também. Mas os de Figo, de ameixa, os de coco queimado com sabão... esses muitas vezes acabavam ficando anos no fundo da Caixa Amarela, até que minha mãe finalmente desistisse e jogasse no lixo - com caixa e tudo.

12:28 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Os bombons de Marshmellow e os de Rum são os que sempre sobram aqui em casa também. Nem poderíamos fazer intercâmbio.
Os de banana, que a maioria das pessoas que eu conheço não gosta, eu também adoro.

Beijo!

1:00 AM

 
Blogger urbenauta said...

Na minha casa, a caixa de bombom era dividida corretamente entre todos...
Então cada elemento da familia ficava com três bombons que não gostava, quatro mais ou menos e dois maravilhosos...
O pior problema era a tortura paterna, primeiro se comia os ruins, depois os médios e por último os maravilhosos.
Essa ordem era obrigatória, e o não cumprimento da mesma implicava em severa punição! (O degenerado quarto escuro, o verdadeiro pau de arara da minha infancia...)

8:49 AM

 
Blogger Gastón said...

beibe, vc comprava só pra vc? que menina mais independente...

Clau, como assim caixa na fábrica???? Você podia fazer uma caixa inteirinha só com os the best? Inveja...

Dani, passa o endereço que a gente despacha via sedex pra vc ;0)

Nana, esse negócio de zerinho-um, aqui em Sampa é dois ou um. Mas isso é assunto pra outro post.

Bela, eu adoro o bombom caribe. Eu adoro banana passa com chocolate, como um Supino todo dia de lanche da manhã.

Aninha, já tô na fase dois. Tô tomando suplemento. E a Cynthia me mandou ir pra academia :0P

Lalinha, o de figo é o pioooooor ever. Eca. Eca duplo.

Alice, você é uma pessoa de extremo bom gosto para chocolate.

Urbe, save the best for last. Essa é a lei.

9:44 AM

 
Blogger mc said...

Uma fala de brigadeiros, outro fala de bombons. Posso saber como é que você pretende me ajudar????

1:44 PM

 
Blogger . fina flor . said...

Em dias de TPM eu como até os de rum, rsrsrsrs*

Gostei do texto.

beijos, querido

MM

ps: notícia boa para paulistas e cariocas no Fina Flor, não deixe de passar lá :o)

7:19 PM

 
Blogger  said...

Gastón, estou gostando muito dos seus textos. Acho eles muito bem escritos, sempre com algum humor. Sou aluna da jeca, se quiser, e tiver tempo, da uma passadinha la no meu blog. www.meusolhosadolescentes.blogspot.com

11:30 AM

 
Blogger Gastón said...

Rânei, sem desculpas. No próximo post eu ponho alface.

Moniquinha, vocês e os chocolates na TPM. É bom conveniente isso rsrsrsrs.

Má, vou lá visitar seu blog sim. Alina da Jeca, tenho certeza que tem coisa boa por lá. Obrigado e apareça sempre.

10:51 AM

 
Blogger Ana Téjo said...

É podre, é sórdido, é vergonhoso, mas eu preciso confessar: quando tinha caixa dessas lá em casa, eu cheguei, mais de uma vez, a descolar a lateral do celofane com todo cuidado, abrir a caixa, abstrair os meus preferidos, enfiar o celofane na caixa de novo (essa era a parte mais perigosa, porque o risco de rasgar era imenso) e fechar a lateral com uma gotinha de cola branca. Me mantive na criminalidade até meu pai começar a ameaçar escrever para a Garoto porque eles "só podiam estar roubando no peso"!
Coisinha bondosa, eu, né?

5:56 PM

 

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