segunda-feira, agosto 14, 2006

Like a Rolling Stone

E foi-se mais um dia dos pais.

Me lembro de uma dessas vezes em que os Stones vieram para o Brasil, quando o Mick Jagger completou 60 anos.

Engraçado é que meu pai também estava se tornando um sexagenário. E nunca teve nenhum disco dos Stones.

O Mick Jagger, magrelo que nem uma lombriga, rebolando e se jogando de um lado pro outro do palco, duas, três horas.

Meu pai ouvindo um disco do Aznavour, lendo o jornal, no sofá, duas, três horas.

Sou mil vezes ser filho do meu Pai do que do Mick Jagger (principalmente correndo o risco de a minha mãe ser a Luciana Gimenes...).

Gosto dele assim. Caretão mesmo.

Meu pai não ouviu nem Stones, nem Beatles e muito menos Chuck Berry.

O mais perto do Berry que ele chegou foi no natal do ano passado quando me pediu um CD do Berry White.

Trabalhou de terno e gravata durante os 47 anos de profissão. Aliás, trabalhou sempre no mesmo lugar. Começou como office boy no banco aos 15 anos e se aposentou como diretor aos 62.

Nunca vi meu pai de camiseta, nem de bermuda e muito menos calçando tênis.

E quando chega o dia dos pais, tenho sempre um grave problema: encontrar um presente.

Sim, camisetas, bermudas, tênis e discos dos Stones estão fora de questão.

Bem que no ano passado resolvi arriscar e dar um par de Adidas pra ele fazer as caminhadas diárias pelo quarteirão. Afinal de contas havia ali uma oportunidade única de ver um desses no pé do meu pai.

Ele abriu a caixa e me perguntou:

- O que é isso?

Ta lá o tênis branquinho dentro do armário. E ta lá o meu pai de calça jeans Pierre Cardin, cinto, camisa e sapato caminhando apressado pelo quarteirão, como se tivesse esquecido a carteira na padaria e voltasse pra apanhá-la.

Esse ano aprendi a lição: dei um par de sapatos. Não dá mesmo pra mudar alguém depois de 67 primaveras. Se ele gostou? Claro, é a marca de sapato que ele usa, da cor que ele gosta e vai substituir o que ele já tem nos pés porque está ficando meio surrado.

Nesses 30 anos de existência, me lembro de vê-lo radiante com um presente que eu dei uma única vez na vida. Foi quando eu comprei pra ele um daqueles bonezinhos de feltro italianos. O homem imediatamente enfiou o boné na cabeça e estampou um sorriso indissolúvel no rosto.

Esse é o meu velho.

De quem herdei o habito de ler jornal todos os dias, o gosto pela música francesa, o nó na gravata e o prazer de molhar no molho do macarrão com um naco de pão.

De quem herdei os olhos, a boca e o queixo.

De quem herdei o caráter, a retidão e o amor pela vida.

Esse sou eu.

5 Comments:

Blogger Cláudia said...

Lágrimas nos olhos...
eu acho que somos abençoados pelo simples fato de termos nossos pais ao nosso lado para que possamos presenteá-los, abraçá-los, beijá-los sempre que possível.
Meu pai, como sabe, é o oposto do seu, apesar de também nunca ter tido um disco dos Stones.
Herdei dele principalmente a paciencia, a forma de ver o mundo com os olhos da paz e não da guerra, o empreendedorismo, o otimismo.
Somos mesmo uns sortudos, não?
beijo

1:31 PM

 
Blogger Ana Téjo said...

Gastón,
Engraçado... nunquinha na minha vida eu te vi de gravata.
Beijos.

5:12 PM

 
Blogger Ana Téjo said...

Vamos combinar um dia só pra você aparecer de gravata?

5:13 PM

 
Blogger Gastón said...

Ju, realmente é caso raro. Porque em dia de reunião com cliente eu escolho e minha melhor camiseta, minha calça jeans mais bacana e meu all star mais limpinho pra ir.

Casório Ju, temos que arrumar um casório em comum!

5:19 PM

 
Blogger mc said...

Olha, eu tava toda emocionada aqui, li o comment da clau e já ia pensando no que escrever no meu quando vi o da Ju. Aí danou-se, né, virou piada! Mas fica aqui a sugestão: Pizza de gravata!!!!

10:12 PM

 

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