terça-feira, julho 31, 2007

Perfeição

Aceitei o convite da Cris.

Que convite? Ela me propôs que escrevesse um texto sobre o tema "Dia perfeito".

Antes de mais nada, aqui fica o convite para ler o que haverá de tão perfeito na jornada dessa minha tão querida amiga.

Bom, eu não sou chegado nesse lance de corrente. Mas essa, ao menos, não tem um formato pré-definido e puxa dos escolhidos um desafio de criatividade. Então, vamos lá.

Passo adiante a deliciosa tarefa para o Rods (aí você já aproveita e tira a teia de aranha do seu blog) e Ana Tejo. Olha só, escolhi os meus ídolos. Sem prazo, compromisso ou obrigação. Mas gostaria de ver o tema nas linhas de vocês.

Gastón.


Um dia Perfeito

Não importa o tempo que estava lá fora.
Não importa o que estava passando na tv.
Não importa o que eu fazia.

A campainha tocou.
Eu abri.
Era você.

-Oi.
-Oi.
-Eu vim. E dessa vez é pra ficar.

Ninguém tá vendo.

Entrei na loja. Aquela loja que a minha mãe comprava pijama pra mim quando eu era pequeno. Aquela, cuja sacola dava vergonha.

- Boa noite senhor, posso ajudá-lo?
- Oi.
- Oi senhor, posso ajudá-lo?
- Pode.
- O que o senhor está procurando?
- Eu?
- É, o senhor.
- Erh...
- O senhor quer ver um pijama, uma cueca, umas meias?
- Não.
- Então, o que senhor deseja.
- Eu queria uma cerrrlll...
- O que senhor, não entendi?
- Uma crla...
- O senhor pode falar mais alto e com a boca aberta?
- Uma CRLA....
- Ah, o senhor quer uma Ceroula?
- É, isso mesmo aí que você disse.
- Claro. Olha, temos essa aqui preta, cinza ou branca.
- Me vê uma cinza. Uma não, duas.

Nisso eu reparo que cada ser humano que entra naquela loja pede a mesma coisa pras vendedoras. Aqueles cavalheiros, todos tentando disfarçar, cúmplices com suas novas roupas íntimas ridículas.
Forma-se quase uma ceita secreta: os friorentos portentores da ceroula.

- Qual é a senha?
- "Viado é a puta que o pariu".
- Pode entrar.

Mas isso não era tudo. Na hora do caixa, uma mocinha, digamos, de gestos pouco discretos, fazia questão de urrar para todo o shopping.

- VAI LEVAR UM MINHOCÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOUUUUUMMMMMM?????

Pra quem não sabe, minhocão é o outro nome que se dá à ceroula. Sim, existe um nome mais ridículo e vexatório do que ceroula.

Aí você olha pro lado, vai escolher umas meias, deixa cair o cartão de crédito, enfia uma cueca na cabeça...

- AAAAAAHHHHHHH, MINHOCÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOUUUUUMMMMMM É MUITO BOOOOOOOOOM. NESSEEEEE FRIOOOOOO, O NEGÓCIO É VESTIR UM MINHOCÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOUUUUUMMMMMM.

(Minha senhora, se a senhora gosta de vestir o minhocão, é uma coisa muito sua. Aliás, cala essa boca se não vai ver o minhocão já, já...)

- É, pois é. Eu ando com um bocado de frio. E eu uso sempre calça Jeans, as pernas ficam geladas.

Paguei e saí.

Detalhe: agora, ao invés de ter estampado "CASA DAS CUECAS" na sacola, tem um moderno U|W. É, porque ceroula é o fim do mundo, mas Under Wear é chique.

Pronto. Tô de under wear. Que foi, nunca viu não?

domingo, julho 29, 2007

Enquanto isso, em algum lugar dos trópicos...

Já falei aqui que vou contrariar todo mundo e lançar no meio acadêmico uma teoria sobre o esfriamento global? Minha prova definitiva que vai abalar a ciência? Uma foto do termômetro daqui da esquina na madrugada de sábado quando eu tava voltando da balada. Sete graus.

O complicado é que esse apartamento parece não se diferenciar muito do ambiente externo.

Quando situações extremas dessa categoria ocorrem, eu prontamente me equipo com o meu Kit-véia.

O que é o meu Kit-véia?

Pijama feio + moleton + meia grossa + cobertor + aquecedor + chá.

Nada sexy, mas esquenta.

Esse meu pijama é muito feio. Olha, eu já vi pijama feio mas que nem o meu... É um da hering que comprei recentemente, quando o frio começou a apertar aqui em Sampa. Eu sei que é pra dormir, mas podia fazer um negócio mais jeitoso né? É um cinza esquisito, cor de água suja. Eu pareço um penitenciário com esse treco. Se der uma batida aqui eles acham que eu saí pro indulto de páscoa e nunca mais voltei.

Aí eu visto um moleton por cima. Bom é que disfarça a pinta de xilindró. Agora, tem uma coisa que eu detesto, mas nessas horas não tem como: dormir de meia. Se eu não botar um par de meias grossas meu pé vira mármore. E se seu pé tá gelado, você está inteiro gelado.

O cobertor eu arrasto pra cima e pra baixo. Pareço um charuto enrolado naquele treco marrom. Sim, eu pareço uma coisa menos legal que um charuto também... mas vamos ficar com a primeira comparação, ok? Me enrolo todo na coberta e ligo o aquecedor bem na minha frente. O pessoal aqui da agência me perguntou:

- Nossa Gasta, onde tava esse sol que você tomou no fim de semana?

Sol nada, tá rolando um bronzeamento artificial de tanto que eu fico com esse aquecedor apontado pra mim.

Por fim, uma bela xícara de chá. Nunca fui muito fã de chá, mas como até café eu ando tomando, um chazinho pra esquentar a alma antes de dormir não faz mal a ninguém.

Pareço ou não pareço uma véia com esse aparato todo?

Só tem uma coisa que eu me recuso a usar pra compor o kit: tôca. Aí seria de mais. Mesmo sozinho, eu tenho noção do ridículo, pera lá.

Mas que a careca acorda gelada, isso acorda.

quarta-feira, julho 25, 2007

Anota aí.

Maria Lúcia, ou apenas Malu como todos conhecem, tinha listinha pra tudo. Num caderninho de brochura simples que ela carregava na enorme bolsa de veludo, enumerava página por página todas as listas que regulavam sua vida. Tinha de tudo. Carros que a família já teve, possíveis nomes para cachorro, filmes que assistiu aos sábados, sabores de sorvete que já tinha experimentado, etc..


Tudo era motivo para uma nova lista.

- Malu, posso te perguntar uma coisa?

- Fala.

- O que você tanto confere aí nesse seu caderninho heim?

Malu fazia que nem escutava. Botava o bloquinho de volta na bolsa e soltava:

- Heim?

Mal sabiam os outros que havia ali também uma lista só de pessoas que haviam perguntado a ela sobre a utilidade do tal caderno. Obviamente uma das maiores.

E ela seguia anotando, enumerando, catalogando, listando tudo o que se passava dia após dia. Claro, não cabia tudo num caderninho só. Ela apertava a letra, fazia colunas, espremia daqui, abreviava de lá mas uma hora o caderno acabava. Quando isso acontecia, ele ganhava um número de série e integrava a biblioteca dos, até o dia de hoje, cento e cinqüenta e três volumes escritos. Pois é, não vamos revelar a idade de Maria Lúcia, até porque não pega bem fazer isso com uma moçoila, mas digamos que a infância já vai longe e a mania das listas começou com o primeiro namorado.

Sim, o primeiro namorado. Coitado do rapaz. Um dia ele resolveu contar pra todo mundo na escola que estava namorando a Malu. Pra que? Era um tal de "tá namorando, tá namorando, nanananá..." que deixou a menina furiosa e morrendo de vergonha. Conclusão? As duas primeiras listas acabaram surgindo meio que ao mesmo tempo: a de "ex-namorados" e de "o que um homem não deve fazer para Maria Lúcia".

As duas listas cresceram juntas na medida em que Malu ia conhecendo novos rapazes. Isso até o dia em que a quantidade de exigências listadas por ela para um pobre infeliz conquistar seu coração era tão grande, que qualquer sujeito tomava um fora imediatamente após abrir a boca ou tentar qualquer iniciativa. Assim, logicamente, nasceu outra lista: a de "caras que tomaram foras no primeiro minuto". O mais interessante era que, depois de mandar o homem passear, ela parava e perguntava:

- Escuta, qual o seu nome heim?

Sem entender nada, já achando que ia ter uma segunda chance eles sempre respondiam.

- É Marcelo.

- Marcelo de quê?

- Souza. Mas quer saber porque heim?

- Só pra ter certeza que eu nunca mais vou te dar um fora outra vez. Grosseria que deixava o sujeito espumando de ódio daquela maluca. Mas assim catalogava mais um e não precisava explicar sua mania. Mania que aliás, assinaria embaixo toda a tese de maluquice.

Era tanto recalque, tanta intransigência que mal dava pra falar um bom dia sem cair na malha fina.

Conclusão? Na seca por quase 10 anos.

Exceção feita apenas ao Antônio. O Antônio foi o cara que encontrou o caderninho número 84 que Maria Lúcia esqueceu no ponto de ônibus. Foi fácil devolver, já que uma das listas era justamente de endereços onde ela já morou. No caminho até a casa de Malu, teve tempo suficiente para dar uma bela lida nas mais diversas listagens. Inclusive no manual prático para passar do primeiro encontro.

Quando tocou a campainha, Antônio quase caiu de costas com a beleza da menina. Devolveu o caderninho e deixou ela toda agradecida. Já emendou um convite pra sair. Talvez por gratidão, Malu acabou aceitando.

Fez tudo como mandava o figurino: chegou pontualmente, esperou pacientemente por 20 minutos, abriu a porta do carro, decidiu onde iam, puxou a cadeira, elogiou o cabelo, elogiou o vestido, ouviu tudo que ela disse atentamente, deixou ela escolher o prato, pediu massa, bebeu vinho, pagou no cartão, puxou a cadeira de novo, abriu de novo a porta do carro, tentou um beijo só na hora da despedida, ligou no dia seguinte, marcou um encontro pra dali dois dias, levou no cinema, escolheu uma comédia romântica água com açúcar, comprou os ingressos, comprou as pipocas, escolheu o assento do meio na fileira J, chorou, beijou ela no momento do beijo, ligou no dia seguinte, marcou outro encontro, mais outro, um outro ainda e levou a Malu pra cama.

Depois disso, no melhor estilo Arlindo Orlando, desapareceu. Escafedeu-se. Ó Antônio volte onde quer que você se encontre.

Já tem um tempo que ninguém sabe da Malu. Ouvi um boato que ela casou com o Sérgio. O Sérgio era o cara mais mal educado, ogro, porco e chauvinista do bairro onde ela morava.

Mas ele gostava dela. E, como condição pra viver em paz, parece que decidiu logo de cara entregar sua cartilha pro rapaz.

Coçar o saco podia. Mas experimenta não abrir a porta do carro pra você ver. Tá morto.

domingo, julho 22, 2007

A medida do tempo

Quem inventou esse negócio de fim de semana tava muito certo. Às vezes tenho a sensação de que é mesmo a medida certa que se proporciona entre prazer e trabalho. Rala-se o suficiente para dar graças a deus pela chegada do sábado e domingo. Descansa-se o suficiente para encarar mais cinco dias na labuta.


Mas fala baixo. Inadmissível esse papo. Confessar que apenas dois dias de ócio nos satisfaz? Domingo à noite é, e sempre vai ser, horário nobre do nosso amigo bode. Segunda de manhã então, chama um guindaste pra te tirar da cama.


Bem que a gente tenta imaginar outra fórmula, mas será que alguma outra funcionaria tão bem?

Não seria ótimo trabalhar duas horas a mais todos os dias e ter 3 jornadas de folga ao invés de duas. Mas peraí, eu já trabalho duas horas a mais todos os dias...

Quem sabe trabalhar que nem um louco dois dias e depois compensar tirando três manhãs de folga. Mas eu já trabalho que nem um louco dois dias. Aliás, eu trabalho como um louco cinco dias, inclusive durante as hipotéticas manhãs de folga...


Trabalhar uma hora a mais por dia e tirar a sexta à tarde de folga? É, isso deve funcionar na Noruega.


Ficar dez dias trabalhando e quatro descansando? Não, essa eu não gostei.


Toda essa reflexão porque, fim de semana passado, fiquei confinado dentro da agência. Até certas horas da madrugada, inclusive. Passei 12 dias seguidos na pauleira até chegar o meus tão esperados dias de fim de semana.

Quando tenho que trabalhar de sábado e domingo, sofro da síndrome da quarta-feira. Chega no meio da semana e o cansaço bate forte. Sexta à noite, o sistema todo travou. Tilt no cérebro. Tela azul. Sem bateria pra mais nada.

Não tenho mais saúde pra essas coisas. Aliás, saúde eu tenho de sobra, o que eu me falta é saco mesmo. A quantidade de coisas que eu deixei de fazer pra dedicar meus dias de descanso ao trabalho me deixaram num mau humor sem tamanho.

A idéia de chegar na sexta à noite e saber que só vai descansar dali sete longas jornadas é de matar qualquer cidadão.

E já foi longe o tempo em que isso era privilégio de nós publicitários. Hoje em dia não tem mais profissão tranqüila.

Talvez o negócio do fim de semana possa estar mesmo certo. O errado deve ser o número de horas do nosso dia.

Umas trinta estaria de bom tamanho?



quinta-feira, julho 19, 2007

Nova série

Eu, assim como a maioria dos nossos amigos blogueiros, mantenho um controle sobre o tráfego aqui no Vida Perra. Tem lá um site bacana que me diz quantas pessoas entraram, a que horas, quantas vezes, de onde, pra onde, etc...

Não dá pra saber quem é quem. Então, não se preocupem com a privacidade. Até onde a gente pode saber, todos são pontinhos num mapa ou apenas enormes números de IP (internet Protocol – cada conexão é representada por um número).

Mas uma coisa em especial tem me divertido muito nesse lance de estatísticas: o referals. Por lá eles indicam como os usuários vieram parar no site caso tenham clicado num link qualquer. Mais uma vez, não tenho idéia de quem seja. Mas se no seu blog tem lá um link para o Vida Perra e alguém clicou nele, no referals estará assinalado o endereço do seu blog.

Todos os dias muitas pessoas vêm parar aqui por conta do Google. Vão lá, digitam uma busca qualquer e, vez ou outra, se deparam com o Vida Perra. Não procuraram por Vida, por Perra, por Gastón, nada disso. Eles põe os assuntos mais diversos e, muitas vezes, os mais esdrúxulos. Um mundo maravilhoso se abriu para mim. As pessoas digitam cada coisa que você não imagina. E o mais incrível é verificar como elas acharam o meu blog com isso. Claro, sempre fruto de uma ou duas palavras espalhadas pelos posts que, juntas, tem significados bizarros.

Não sei se alguém que chegou aqui nessas circunstâncias resolveu ficar e virou leitor assíduo. Mas percebo que a maioria vê logo que não é o que procurava e vai embora.

Resolvi então criar uma nova série: Como cheguei no Vida Perra.

Nessa fantástica série, exploraremos os termos de busca mais bizarros encontrados por mim, semana a semana. Para ajudar meus amigos internautas que caem desavisadamente por aqui atrás de um saber inatingível, tentarei dar uma explicação científica sobre sua busca, elucidando as mentes desses nobres usuários do Google.

Para inaugurar a série, vamos todos juntos viajar e nos imaginar no Google. Aquela telinha branca, o logo todo colorido. O sujeito foi lá e digitou:

"receita de filé de pirosca"


E veio parar no meu blog.


Bom, eu não sou muito profissional na cozinha. Sei fazer um arroz, um macarrão, essas coisas. Se é que isso que você tá procurando se faz na cozinha. Precisa ver o que se entende por pirosca.

Mas vamos lá. Vamos tentar dar uma receita para esse cidadão.

Ingredientes:

1 pirosca (essa que você tem em casa)

Preparo:

Pega a pirosca, corta em filé. Eu posso supor que vá doer. Muito. Melhor cortar de uma vez só e bem rápido. Na verdade não vai ficar filé, o máximo que você irá conseguir será um picadinho.

Pronto, agora que você destruiu sua pirosca e transformou ela num monte cubinhos inúteis, dá isso pro cachorro, volta no google e procura por "Roberta Close - segredos de beleza".

Bom, espero ter ajudado. Se alguém aí tiver alguma outra receita, por favor, deixe nos comentários.

terça-feira, julho 17, 2007

É muito pra minha cabeça.

Antes de começar esse post, uma pequena explicação sobre um dos mecanismos menos sujos que nós, publiciotários, utilizamos para empurrar algo pra você: o sampling.

Fazer sampling é uma forma bonita e em inglês de "distribuir amostra grátis". Sabe quando você sai do cinema e tem aquele monte de gostosa distribuindo pasta de dente, barrinha de cereal, bombom, etc? É, aquele que você finge não estar interessado mas quase abre os braços e passa por cima da garota pra ela te dar um? Ainda faz aquela cara de surpresa do tipo "nossa você aqui?". Que te deixa puto quando a amostra é de produto só pra mulher e elas dão só pra sua namorada? Então, todo mundo já atropelou alguém por umas dessas.

Estava eu entrando no Shopping Morumbi a bordo do meu Gasta Móvel, com a missão de comprar junto com minha melhor amiga um maravilhoso, incrível e sensacional já descrito nesse blog George Foreman Grill para dar de presente a um amigo em comum.

Como de praxe, parei na cancela. De longe já havia avistado não uma gostosa, mas um marmanjo distribuindo algo para os que retiravam o ticket. De cara pensei que fosse prospecto de apartamento de 11 dormitórios, 36 vagas de garagem, amplo espaço de lazer, bem localizado no coração nobre do Morumbi. Já me deixou puto porque quando o cara te dá esse maledeto papel na cancela do shopping, não dá pra falar não. Junto com o folder do apartamento ele te entrega o cartão do estacionamento.

Mas qual a minha surpresa quando, das mãos daquele sujeito, eu recebo uma amostra grátis. Sim amigos, uma amostra grátis. E logo do que?

Algum palpite?

Alguém tem alguma idéia?

Heim, heim, heim?

Não quer arriscar?

Sim. Eu ganhei um sampling de shampoo.

Pois é, ele olhou pra aquele careca que tava dirigindo e, como provavelmente é um leitor assíduo do Vida Perra, pensou assim "Cara, ele é careca mas isso não quer dizer nada. Ele usa shampoo".

Além de lisonjeado, me senti quase cabeludo.

E olha que era sábado e, aos sábados, eu raspo a cabeça. Ou seja: eu tava careca pra cacate.

E que amostrinha caprichada aquela viu? Neguinho não economizou, vieram nada mais nada menos do que 3 sachês de shampoo para homem.

Se tratava de um shampoo 6 em 1.

Ele Remove a caspa que eu não tenho, previne a coceira causada pela caspa que eu não tenho, reduz a queda daquilo que já se jogou do alto da minha cabeça faz tempo, diminui o ressecamento que eu nunca tive, nutre o couro cabeludo que é tudo o que me restou além de limpar e refrescar.

Resumindo, o shampoo é 2x1 pra mim. Ele deixa tudo limpinho e com uma sensação refrescante. Como se não ter cabelo já não fosse motivo suficiente de refrescância...

Na minha avaliação de consumidor pôcatelha não tem nenhuma vantagem extra nesse produto. Mas uma coisa me deixou muito feliz: cada sachê de 10ml dura 5 dias! É, eu tenho 15 dias de shampoo grátis.

Vai dizer que não deu uma inveja agora?

Não dá pra negar: o lance mesmo nessa vida é ser careca. Eu recomendo.

domingo, julho 15, 2007

O céu pode esperar. Eu não.

tuuuu........tuuuuuu.......tuuuuuu.........tuuuuu

- Alô

- Alô, de onde fala?

- Controle da Vida, Departamento de Destinos, Antônio, boa tarde.

- Oi Antônio, tudo bem?

- Tudo bem, em que posso ajudá-lo?

- Eu queria fazer uma reclamação sobre o meu destino.

- Pode falar Senhor, qual o seu problema?

- É que deram a mulher da minha vida pra outro cara.

- Só um minutinho que eu vou passar o senhor para a secretaria de Almas Gêmeas, um segundo.

- (música do gás) Caramba até no céu os caras usam essa musiquinha pra espera...

- Secretaria de Almas Gêmeas, Afrodite, boa tarde, em que posso ajudá-lo?

- Oi Afrodite, eu queria fazer uma reclamação.

- Pois não senhor. Posso confirmar alguns dados?

- Claro.

- Seu nome, por favor.

- Gilberto.

- Nome da primeira namorada?

- Nossa, faz tempo. É a de infância que você quer saber?

- Isso mesmo senhor.

- Acho que era Denise... lembro que era uma japinha. Eu tinha uns cinco anos, não tenho certeza.

- O motivo do término do último namoro foi ciúme excessivo?

- Isso. Nossa, que mulher louca. Ficava fuçando no meu celular, acredita?

- Muito bem Sr. Gilberto, muito obrigado por confirmar esses dados. Qual o seu problema?

- Então, é que outro dia eu encontrei a mulher da minha vida mas ela tá com outro cara.

- Sr. Gilberto, isso é tecnicamente impossível.

- Não é não, a mulher da minha vida tá lá com outro cara. Quando eu cheguei na parada ele já tava com ela há um tempão.

- Impossível Senhor. O senhor nunca ouviu falar no nosso projeto “Metade da Laranja”?

- Bom, então minha laranja virou suco né? Porque tem alguém bebendo no meu copo. A mulher tá lá com aquele bolha e eu aqui sofrendo há 3 anos. Acha que é fácil? O cara nem trata ela direito. E o pior é que botaram logo uma bem indecisa pra mim. A mulher não larga o osso. É insegura, medrosa pra caramba, não enxerga, adora ficar sofrendo, acha que não é capaz de arrumar coisa melhor, etc.

- Senhor Gilberto, defeitos de fabricação é responsabilidade do departamento de genética.

- Eu sei, tava só desabafando. Tá cheia de defeito de fábrica mas é minha. E eu quero aquilo que é meu. E eu assinei contrato até que a morte os separe.

- Qual o nome dessa senhorita que o senhor reivindica?

- É Miriam.

- Só um instante que eu vou estar verificando no nosso sistema. É senhor Gilberto, realmente consta aqui que a senhorita Miriam é mesmo sua alma gêmea.

- Então pô, como é que eu fico? Olha eu exijo uma retratação. Quero a solução imediata do meu problema. Se não vou botar vocês no pau, vou apelar pra corte da Justiça Divina. Eu exijo a tampa da minha panela.

- Senhor, é "Metade da Laranja". O projeto “Tampa da Panela” foi substituído pelo já extinto “Chuchu da minha marmita” que por sua vez evoluiu para o "Metade da Laranja".

- Coisa horrível esse nome, me lembra música do Fabio Jr...

- É, esse é o nosso novo Jingle.

- Nossa, vocês ouvem Fábio Jr por aí? Pensei que isso era coisa só do inferno. Bom, mas não muda de assunto, e o meu problema?

- Olha Sr. Gilberto, nós podemos estar providenciando uma nova mulher para o senhor. Nós enviamos um cupido hoje mesmo e o senhor se apaixona por outra solteirinha da silva.

- Mas eu quero aquela.

- Olha Sr. Gilberto, aqui não consta a data de aquisição definitiva da Dona Miriam, ou seja, pode ser que ela esteja só perdendo um tempo com esse outro homem mas, no fim das contas, acabe mesmo escolhendo o senhor.

- Tá, mas não dá pra apressar esse negócio não? Sei lá, manda uma gostosa seduzir esse cara.

- Calma Senhor, não precisa chegar a tanto. Vamos fazer o seguinte: nós vamos enviar alguns sinais divinos para a sua senhorita. Se até o fim do ano ela não se tocar, assim que entrar 2008 nós enviamos um cupido express.

- Mas eu vou ter que esperar mais seis meses?

- O senhor já esperou três anos.

- É...

- E o senhor ama ou não ama essa mulher?

- Amo.

- Então Sr Gilberto, guenta aí.

- Tá bom. Mas olha, se não tiver como e precisar trocar mesmo, nada de baranga heim? Tem que ser gata que nem a minha. De preferência ruiva.

- Tudo bem, vou colocar uma observação aqui. Se for o caso, nós entramos em contato com o senhor e o deixamos escolher alguns atributos.

- É o mínimo que vocês podem fazer. Mas vem cá, não dá pra fazer esse marido da Miriam virar boiola não? Eu quero ela, cacete. Pô quebra essa pra mim vai? Bota aí um negão na vida dele.

- Não Sr. Gilberto.

- Arruma um emprego pra ele no Alasca. Sem possibilidade de levar a mulher.

- Não Sr. Gilberto.

- Faz ele conhecer o negão e fugir pro Alasca.

- Posso ajudar em mais alguma coisa Sr. Gilberto?

- Não vai ter o negão?

- Não.

- Tá, é só isso então.

- O Céu agradece, tenha uma boa tarde.

tuuuu........tuuuuuu.......tuuuuuu.........tuuuuu

- Disque capeta, Lu, em que posso ajudar?

- Alô, tem negão pra presente?


terça-feira, julho 10, 2007

Princesa Isabel?

Típica semana no tronco. Sinhozinho tá com a chibata cantando atrás de Gastonildo. Vou tentar fugir da senzala e escrever um post essa semana, mesmo arriscando meu lombo.

Guenta aí mizifio.

Vida de perro é difícil...

terça-feira, julho 03, 2007

Onde houver um só espaço vazio.

O Bibelot é uma das maiores pragas decorativas existentes, pertencente a casa de mães, tias e avós de senso estético duvidoso e hábitos imperdoáveis.

E praga é o termo mais correto. Porque isso se espalha pela casa das pessoas dominando cada cantinho vago. Tem um espacinho ali? Bota uma tartaruga. Outro lá? Enfia uma menininha no balanço. Opa, ali tem um vazio. Bota um ganso. Mas que desperdício, olha aqueles 2 centímetros quadrados entre a borboleta e o gato de botas. Põe ali uma pomba.

É o zoológico dos infernos.

Sabe gremilin? Então, é isso. Se quebrou um, aparecem dois no lugar. Agora imagina se a Jô trabalhasse numa casa cheia de bibelots... Epidemia.

Mas as vezes as pessoas são obrigadas a conviver com isso por toda uma vida. A casa dos seus pais é a casa dos seus pais. Vale o gosto daquela sem noção da sua mãe.

Tenho um amigo, por exemplo, que divide moradia com 264 pessoas. Os pais, a irmã e mais 261 bichinhos de porcelana. Pois é, a mãe dele é dessas chegadas num enfeite. O engraçado é que eu conheço bem mais de uma pessoa cuja morada dos pais é abarrotada de tranqueiras. Esses são os mais sofridos, coitados. Quando vão morar sozinhos não botam nem vaso em cima da mesa de tanto trauma.

Eu tenho aflição de entrar em casa cheia de bibelots. Eu não consigo deixar de pensar no trabalho que deve dar limpar aquilo tudo. Tirar todos os negocinhos, limpar a mesa, limpar os negocinhos, colocar tudo de novo... ah não, sai pra lá. E, geralmente, quem coleciona bibelots tem TOC. A pessoa tem uma ordem certa para todos os 597 bichinhos. Experimenta colocar o bambi atrás do ratinho cego pra você ver. A porrada come solta.

Casa cheia de bibelots dá medo. Primeiro porque eu tenho receio de esbarrar em alguma coisa. Fico tenso. Depois, porque parece que tem uma arquibancada de cachorrinho de porcelana te olhando no sofá. Aqueles olhões compridos, chorões, todos te observando. É tanto bonequinho junto que me sinto numa obra do Nelson Leirner. Fala a verdade é meio aterrorizante, náo é? Imagina você vendo televisão, com as luzes apagadas, de pijama, na sala. Aí, de repente, olha pra cima e tem um monte de bibelots de olho em você. Aí um deles some e aparece em cima da mesinha de canto. É o Chucky.

E a minha avó que tá achando que vai bater com as dez amanhã e resolveu fazer a partilha dos bens bibelosísticos dela?

- Não Vó, a senhora vai até os 100 no mínimo. Guarda essa família de porquinho feliz com a senhora.

A gente vai escapando como pode.

Acontece nas melhores famílias. Quem não tiver uma maníaca por bibelots na sua, que atire a primeira joaninha de biscuit.

segunda-feira, julho 02, 2007

No lugar onde mora.

Fernando mora sozinho. Há quase quatro anos no mesmo edifício, não tem amizade com vizinhos. Conversas sobre trivialidades dentro do elevador era o máximo que se permitia. Pelo menos era uma melhor saída do que deixar escapar caras constrangidas no silêncio dos 16 andares de espera. Morava no último andar. Pra não precisar ter a desagradável sensação de ouvir alguma compartilhável vida sexual de quem quer que vivesse no piso de cima.

- Não quero ninguém trepando em cima da minha cabeça. Imagina só, que coisa constrangedora alguém tomando banho há 2 metros de distância? Sempre que ouvisse aquele barulhinho de chuveiro do vizinho, não poderia deixar de pensar que tem alguém nu ali, provavelmente um sujeito peludo com o saco pendurado apontando pra mim. Dessa vez eu fui mesmo pra cobertura. Agora é o meu saco que tá por cima.

Mania louca de ficar imaginando aquelas vidas empilhadas umas sobre as outras.

O tempo em casa era sempre escasso. Talvez por isso não se preocupasse muito em ter todos os móveis. Na sala um sofá e algo para apoiar a tevê já servia. Tevê que quase não assistia. Sair da redação todo dia depois das dez matava qualquer possibilidade de vida pós-trabalho. Chegava num horário onde já se podia ver quase todas as varandas acesas do lado de fora.

Andava cansado. Com o peito carregado de nicotina e vermelhidão nos olhos.

Batia largado no sofá, atirando-se de braços abertos, empurrando os sapatos com os pés, se livrando dos botões da camisa e agarrando o controle remoto. As vezes adormecia ali mesmo, ignorando os apelos do estômago ou mesmo sem nem lembrar de jantar.

- Porra Casemiro, o que é que você quer agora heim? Tá me olhando com essa cara porque?

Casemiro era um gato branco, com um olho de cada cor que o primo do Fernando deixou de "herança em vida".

- Duda, nem vem cara. Te vira com esse gato. Sei lá, leva ele com você pra Santiago. Tanta gente faz isso. Coloca ele naquelas gaiolinhas e pronto.
- Fê, eu te descolei o sofá e o apoio de TV. Segura essa pra mim vai? Cuida do Casemiro. Sou teu primo cara.
- Sei lá, mal sei cuidar de mim. Vou parecer uma tia velha com esse gato.
- A diferença entre você e uma tia velha é a saia xadrez e o gato. O bichano você já tem. Valeu Fê.
- Tá, mas se você voltar vai querer ele de volta né?

Não teve jeito, teve que levantar pra dar comida para o pobre animal. Sob pena de ter algum canto da casa dilacerado pelos ressentimentos alheios.

- Caramba Casão, acabou sua ração, cara. Seu gato gordo. Seu saco sem fundo. Fica sem comer vai? Eu fico, porque você não consegue também?

Pior que não tinha nada que agradasse ao paladar de um gato dentro daquele apartamento. Fernando tentou jogar pra ele umas azeitonas, um pão dormido, um pedaço de queijo e até o restinho de lazanha que sobrou do jantar do dia anterior. O Casemiro cheirou ítem a ítem, deu umas lambidinhas mas se voltou para o dono com aquela cara de "azeitona não é comida pra gato".

- Droga Casemiro.

Pegou a chave do apartamento, vestiu os sapatos, abotoou a camisa novamente e desceu mal humorado pra buscar algo na padaria.

Leite pro gato, pães e mortadela pra ele. Até que não foi tão mal a caminhada obrigatória, pelo menos naquela noite não ia precisar cozinhar nada. Conforme se aproximava de casa, a fome ia dando cada vez mais as caras.

Entrou no elevador. Apesar do olfato prejudicado pelo maço diário de cigarro, na mesma hora foi atingido por um almiscarado perfume de mulher. Elevador de prédio sempre tem dessas coisas. Os odores dos vizinhos que permanecem ali guardados para a próxima jornada. Num jogo que premia com um banho tomado ou pune com o odor acre de um colocador de carpetes. Fernando, gozando de boa sorte, se distraiu imaginando em que andar estaria a dona daquele perfume. Só um belo pescoço seria digno desse. Devaneios.

Entrou em casa, quase pisou no Casemiro que ficou se esfregando perigosamente entre seus calcanhares enquanto tentava fechar a porta e equilibrar a as compras. Deu de comer para o bichano que, depois de satisfeito, foi se aninhar na almofada que tomou pra si como cama.

Fernando tratou de aplacar sua fome também. Perdeu os sentidos diante da televisão, ali mesmo, há três metros de distância de onde dormia Lívia, a mulher que deixou o elevador perfumado.

Olhava tanto pro teto. Não sabia que o pecado morava ali do lado.

 
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